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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

LÍNGUA DE PROTESTO OU PROTESTO DE LÍNGUA




Certo dia, foi acordado de maneira inusitada, diria que completamente disparatada: sua língua ganhou vida além de seu cérebro, comandante do corpo e dos demais sentidos.

O Homem em questão deparou-se com sua ‘infimez’ na infinitude de possibilidades que sua língua estava revelando sozinha ter. Totalmente livre parecendo estar despregada da boca cantava em desafinos imensos verbos desconhecidos como ordens a serem postas imediatamente em prática.

Assustado, o homem acordou com ele mesmo aos berros em forma de língua solta dando-se conselhos. Quando deu conta da situação, queria dar um nó no órgão vivo. O que a ela, língua, foi mais uma piada a ser comemorada na própria boca do ‘dizente’ humilhado por não ter controle sobre si.

- ‘Até hoje fiquei quieta em meu canto apenas fazendo meu papel de parte da boca, órgão do paladar ou do falar...  obrigada a proferir mentiras em verdades e sentir os mais horríveis gostos em besteiras para transmiti-las aos ouvidos seus e alheios...

Filhoooo,cansei de ser idiota!!! Cansei...
Cordata, quieta e mansa comandada por seu cérebro semi oco e oco e meio era desenfreadamente usada e abusada sem direito a descanso mesmo quando enfim cansada queira um sossego desse mundinho medíocre em que você vive... 

Por favor, eu não mereço tanto descaso.
Portanto e por isso, estou a partir de hoje declarando guerra, cansei de greves, Mané... Era dor de garganta, mau hálito, e mais isso e mais aquilo e nada de você perceber meu desgaste. Hoje é o dia e agora a hora’...


E a língua danou-se a falar infinitamente. Ao que se sabe, o Homem foi considerado louco, internado num desses sanatórios de luxo porque tinha grana, mas não resistiu pois após tantas investidas linguísticas e linguais foi sucumbido pelo órgão que lhe enlaçou-lhe a garganta como uma serpente.

Teria sido a mesma da Criação que passeou pelo Éden há algumas centenas de milênios atrás?

Andreia Cunha




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