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domingo, 29 de julho de 2012

BANCO: DE TROCAS E TROCOS




Até então não sabia o preço de suas escolhas. Ainda jovem fazia o que bem entendia: suas trocas um dia lhe trariam o troco de seus atos impensados.

Fato é que também praticava atos do bem, afinal todos somos dotados de uma parte boa e outra não tanto assim. Sei estou evitando falar no oposto claramente, mas prefiro pensar que existe o bem e a ausência dele e não necessariamente precisamos nomear esse lado tão sombrio que em nós existe. Penso que reconhecê-lo já é um prêmio.

Voltando a origem do conto: a referida adolescente vivia sob as capas do agir mais do que simplesmente o pensar e, por isso, metia os pés pelas mãos com facilidade. Certo dia, acordou disposta a causar raiva em todo mundo que dela se aproximasse.

Sua raiva apertava em seus dentes de maneira que cada pessoa era um inimigo em potencial. Toda provável gentileza que porventura seria iniciada já era desbancada com sua voz irritante e seu mau humor sarcástico.

Por sorte, estava rouca, o que impedia que a ouvissem claramente. Suas respostas estúpidas afastavam o mais gentil dos seres: seu cachorro que se mantinha quieto no canto. O pobre já a conhecia e como resposta evitava ser o alvo da vez.

Arrumou-se e saiu com a macaca à solta louca para aprontar confusão. E as arrumou: com o vizinho que a cumprimentou, com a moça no ponto de ônibus, com o rapaz que sentou-se a seu lado, com o motorista e assim por diante.

Desceu ao som dos berros da multidão alvoroçada gritando ‘ih, fora, ih, fora...’ Por dentro, ria de tudo aquilo. O dia de muita gente já estava marcado com sua intragável presença. Havia contaminado muitos com seu abundante veneno.

Caminhava pelas ruas em movimento indo na direção de um comércio. Não sem antes gabar-se do feito. De repente, deparou-se com a porta de um estabelecimento comercial: era um banco famoso. A porta quase lhe levou o nariz.

À pessoa que se punha em sua frente desferiu-lhe as mais gentis ofensas como meio de causar mais uma confusão.

Os passantes e os de dentro do banco não se contiveram em ver tamanha estupidez e pensaram ser algo como uma pegadinha dessas de televisão. Ela brigava com seu reflexo azul que se punha a imitá-la em todos os gestos e atitudes.

Quando deu por si, já havia cometido a atrocidade. Cega por tanta raiva foi a sensação do momento e alvo dos piores risos. Humilhada por sua própria imagem teve de colocar o rabinho entre as pernas, não sem antes criar mais uma confusão com  toda a cidade que pareia ter se instalado ali só para ver o show de graça.

É, toda troca seja em palavras ou gestos tem seu troco, e o dela veio com algumas moedas atiradas em sua direção com valores irrisórios... Poderia, ao menos, tê-las juntado e aberto uma conta no tal banco que lhe proporcionou certas e duras verdades. O mais importante era que como adolescente, ainda tinha muito a aprender...

Andreia Cunha





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