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sábado, 8 de setembro de 2012

TOMADA 2




Seu corpo correspondia ardendo em fogo juntamente com o som do tambor enquanto a largas planuras uma imensa cúpula do céu se abria em sua mente.

Naquele momento, o imenso círculo que o envolvia em forte vento nas alturas de seu céu interior lhe indicavam que ele todo era apenas uma semente pronta para o plantio que serviria também de alimento. Seu ser suspenso no centro desmembrava-se em caule, tronco, folhas, frutos.

Os pêlos que recobriam seu corpo diminuíram sua estrutura óssea em metamorfose modificava até que expelido pelo vento que o chamou caiu em novo ambiente. Sua queda apesar de brusca não o machucou, fora aliviado nos instantes finais.

O tudo era novo e o todo que antes conhecia era infinitamente complexo a seus olhos ainda perdidos tanto quanto em seu mundo de origem. Via seres semelhantes a sua figura dançando uma música frenética em passadas largas sem direção. Locais de intensa altura na qual buracos  iluminados abertos permitiam a entrada e a saída e o sumiço de quem ali passasse.

Em meio à multidão atordoada ninguém o via, estava como um deles apesar do não pertencimento àquela época. Seu andar ereto o punha em posição mais confortável para se andar. Mas ainda confuso e profundamente desconectado ouvia assim o tambor primordial que desencadeou todo esse processo insano de existência. O ritmo era outro, o medo o acelerara a ponto de estar prestes a explodir pela total incompreensão do tudo que via.

Adentrou um dos buracos e se assustou com a incrível beleza do tudo que ali se via. Não sabia nomea-los.  Se abrisse a boca sairiam grunhidos longos e altos porém pasmado se mantinha calado e num canto invisível a maioria...

Ajoelhou-se num vão e algo lhe soou aos ouvidos que o fez se voltar para a direção de onde viera o som. Não sabia o que significava: “O centro está onde também está o seu olhar”. Apenas por instinto se virou para o som que o despertou ali no encolhido do pó ao chão.

Uma tomada. A ele, três pequenos buracos que não lhe explicavam em nada o mundo que via sob os olhos vendo cegamente o que não se podia ainda entender, os ouvidos abertos a sons e surdos pelo absurdo do complexo incompreensível do nada não saber.

“O centro está onde está também o seu olhar” e seu centro era um canto enquanto outros  e muitos a seus olhos dançavam a música das esferas. Mal sabia que existiam aquelas criaturas , pensava antes ser apenas um perdido entre outros esporádicos.

Poderia ser a caça tão temida em seu mundinho original. Poderia ser a comida ritualística para a renovação das forças daqueles novos homens que  andavam como insetos. Talvez fossem a s feras dos outros tempos que teria de enfrentar? Não, não pensava com palavras. Tudo era medo e pulsação como a do tambor que direcionava seu centro para a tomada de onde parecia vir agora o som.

A tomada o sugou e em velocidade acima da total imaginação humana foi retornando a origem de seus pesadelos. Em corrente elétrica o mesmo vento que o transformou em homem moderno a  árvore, agora o metamorfoseava em sua imagem de origem. O círculo, louco, místico e atemporal o trazia para sua rotação normal.

Não acordou mais o mesmo, era muita verdade para sua imagem primitiva. A partir daquele dia começou a escrever.

Andreia Cunha





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