“Quando o homem está desperto para essa vida, outro dorme num mundo mais sutil. O inverso também é verdadeiro.”
Isso significa que todos nós somos dois e em algum outro lugar temos outro segmento de vida diferente da que atuamos nesse plano. Essa teoria foi encontrada no livro de Urdius Uqdaigh.
Um livro de raízes obscuras manuseado somente por alguns religiosos conhecedores da alquimia sagrada. Nele, há muitas verdades na qual os homens ainda não estão preparados para ver, ouvir e sentir. Não sei o motivo de ele ter vindo as minhas mãos. Mas eis o fato sob minha tosca visão em entendimento:
Precisava estar só. Há tempos planejava fazer uma trilha pelo caminho místico dos jesuítas. Diziam ser um lugar calmo e repleto de histórias e que quem se propusesse a ir de alma disposta e aberta voltaria renovado. Meu objetivo era somente o de estar só e meditar sobre até então o que havia feito e produzido na minha vida e pela vida alheia.
No roteiro constava que existia resquícios de um mosteiro. Porém quando o vi intacto, não considerei fato estranho e o adentrei sendo conduzido sem perceber ao que parecia ser a cozinha. Na mesa, um único livro reluzente. Senti-me conduzida a mesa onde o tal se encontrava.
Foi lá que tomei conhecimento do livro. Em ouro o título Urdius Uqdaigh. Em página aleatória lia-se Urdius Uqdaigh não é um autor, não é um lugar não é nada senão uma idéia abstrata onde a regra é não ter regra, pois todas as regras ditas num parágrafo são contraditas no seguinte e assim por diante.
De modo que as contestações parecem infinitas e os argumentos cada vez mais profundos em movimento circular e denso. Não se pode concluir nada apesar da sabedoria em não determinar conceitos. Não há nele última página e minha maior agonia foi ter me deparado com essa verdade.
Como não ter a última página? E o desfecho tão essencial nos livros comuns?! Esqueci-me que não estava no âmbito do comum ou tradicional. Era a primeira vez que tomava contato com a ‘outra Eu’ neste outro mundo até então desconhecido. Tudo me era novidade. As páginas como ilusão de ótica se multiplicavam e a última se tornava sempre a penúltima.
O enigma proposto na primeira página estava envolto em 23 símbolos que manipulados seja de que maneira fossem, produziriam novos significados ad eternum. Percebi que o belo rapaz que me acompanhava, agora se aproximava mediante minha sensação de incapacidade.
-Surpresa? Disse-me com voz suave.
Indaguei-o pensando se tratar de um anjo, mas ele logo me advertiu que anjo era demais para sua condição e que para isso lhe faltava muito.
- Se a ti te falta muito que dirá a mim, na qual tudo isso me parece improvável e novo...
Riu angelicalmente, mediante minha colocação quase infantil a seus olhos.
- Por isso te trouxe aqui. Aos poucos estás sendo preparada para os segredos de Urbius Uqdaigh. Os 23 símbolos te conduzirão aos demais ainda desconhecidos. Eis tua missão.
Minha anestesia mental perante tanto inusitado não me fazia compreender o todo dito por Berguius Lael.
Não sei quanto tempo permaneci ali dentro, se horas, se dias ou anos. Perdi totalmente a noção cronológica do tempo em suas amarras em correntes atadas no pulso. Posso dizer que saí mais leve e que Urbius existe dentro de mim.
Não na suposta cozinha do mosteiro ou nas mãos de Berguius Lael. Aliás foi ele quem me introduziu no conhecimento do meu segundo eu e do mundo diferente da qual passamos a maior parte dormindo por estarmos mais despertos aqui nessa dita realidade.
Hoje sei que é de desse nada que viemos. Nossa fonte e essência pertencem ao nulo indecifrável, o cá repleto de significações é só um reflexo. RE-FLUXO.
Andreia Cunha
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