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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O MANEQUIM DA MORTE



- Piedade é a arma dos fracos. 

Foi esta a frase que ouviu naquele inesperado instante suspenso no tempo.

Sua vida sempre foi a de se mostrar para as multidões. Embora tivesse boca e julgavam que não falasse e tivesse olhos e julgavam que não visse, tinha certa noção do que eram sentidos e sentimentos.
Muitas foram as vezes que ficou nu, jogado em um canto a espera da nova tendência da moda que o traria a dignidade e a função para a qual fora criado.

Morava em uma loja e gostava muito quando cumpria seu papel em serventia - ficar em exposição na vitrine para ser admirado mesmo que somente pela roupa. Dessa forma, sentia-se útil.
Num belo dia de início de primavera fora recolocado na vitrine após muito tempo com modelos de inverno. 

Sua estadia nos interiores da loja foi um tanto prolongada pois as roupas femininas estavam vendendo mais que as masculinas. Quando retornou a seu posto foi um verdadeiro prazer. Ver gente, movimento era o que mais apreciava. No dia em que reassumia estava feliz e seu sorriso plástico parecia irradiar mais beleza que o habitual.

Entretanto, algo diferente acontecia na rua. Uma movimentação fora do padrão em passeatas e correria. Em seguida sons de tiros e bombas movimentavam o comércio antes tranquilo e feliz.
Ele em si não poderia fazer nada, pois suas pernas não tinham condições de correr ou ao menos se abaixar.

Pedras eram arremessadas e chegaram a quebrar os vidros reforçados da loja. Tiros eram alvejados como se as balas fossem de brinquedo, pessoas caíam sangrando como soldadinhos numa guerrinha da imaginação infantil. Até que uma enfim acertou seu corpo atlético bem vestido na melhor performance em cópia de um ser humano.

Mas quem realmente se importa com um manequim, apesar da forma humana 'ele não é gente mesmo...'

Sangrando como se realmente tivesse veias e órgãos humanos, ouviu a frase do início da narrativa e entregou seu espírito a algum deus que se encarregaria de recepcionar seu corpo do outro lado onde quer que este pudesse ser.

Andreia Cunha

















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