"A liberdade é um dos dons mais preciosos
que o céu deu aos homens.
Nada a iguala, nem os tesouros
que a terra encerra no seu seio,
nem os que o mar guarda nos seus abismos.
Pela liberdade, tanto quanto pela honra,
pode e deve aventurar-se a nossa vida."
Miguel Cervantes
Se os tempos passados são melhores que os atuais? Não o sei. Mas tal ilusão se deve ao fato de que lá em relação ao hoje, somos somente expectadores, não mais atuantes.
Diferentemente do que acontece no presente, pois além de expectadores somos também atores, carregamos nossa parcela de responsabilidade quanto ao que acontece.
Mas de tudo o que disse nesse início de narrativa só restam rebusquices filosóficas.
O que de certo modo quero contar é algo na qual participei e não tenho outro recurso senão a confiança do leitor em disponibilidade de acreditar ou não. Viver o momento é incorrer constantemente numa ameaça: os diferentes tipos de medo
Mesmo estando sujeito ao descrédito, tenho que contar. Eis aí minha responsabilidade com o presente da qual sou participante.
Já havia passado inúmeros tempos de sua presença nesse planetinha. Sua morte causou muitas dores e incompreensão devido a seu estilo de vida aventureiro e fantasioso em matizes vibrantes. Mesmo assim, sua presença permaneceu para as futuras gerações como ator de primeiríssima classe. Ele em si era um clássico.
Seus gestos e atitudes redesenhados pelas palavras de Miguel de Cervantes o mantinham vivo. De modo que a morte prenunciada em palavras de última página não o fizeram menor ou
apagado no esquecimento para toda a Humanidade.
Interessante, entretanto, é perceber os desígnios do Mito, enquanto deus pessoal e coletivo, que a seu desejo revive, refaz e recompõe o antes tido como sem condição.
A "incompreensibilidade" das atitudes divinas (se é que esta palavra realmente existe e não a invento agora como um Frankstein em neologismo) não nos convém questionar. Embora muito me incomode o motivo de ter sido escolhido como participante dessa cena de teatro em vida.
O fato é que o vi ressuscitar. Ao mandado de palavras superiores, o pó ao redor de onde me encontrava tomou a forma de um velho esquálido revestido de uma armadura se intitulando Dom Quixote.
O tal procurava seu cavalo. Parecia figura que havia transposto um portal de outros mundos.Atônito fiquei, atônito permaneci diante de figura tão estranha quanto real na qual meus olhos persistiam no me enganar.
Confesso que a surrealidade era imensa para o tamanho ínfimo de meu corpo.
Não pude enfim, lhe falar nada. O susto foi muito grande para minha mera compreensão do ocorrido.
Apenas vi-o seguir adiante, ao encontro do amigo Sancho que entre a nuvem de poeira vinha na difícil empreitada de encontrar o cavalo-pangaré: Rocinante
Uma visão alucinante.
Andreia Cunha
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