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sábado, 18 de junho de 2011

PRIVADA PÚBLICA




De privada não tenho nada. Sou um vaso sanitário público e estou dentro de um shopping, um dos mais chiques da cidade. Fico próximo à praça de alimentação e também de algumas lojas de grifes.

Como sei de tudo isso? Onde estou localizada e o que tem fora desse meu mundinho obscuro de espaço reservado e distante da modernidade? Oras quer situação mais informativa que fazer parte de um banheiro feminino? E eu, privada pública, faço parte talvez do mais badalado espaço do shopping, perdendo quem sabe para algumas áreas nobres onde se gastam as “verdinhas”.

É, pois no shopping há de tudo, porém estou acima dessa condição social e recebo tantos “glúteos ricos” quanto “bundas pobres” e, apesar de não parecer, tenho o que é imprescindível no meu caso, possuo dois ouvidos aguçadíssimos.

Por isso, mesmo que não entrem em meu reservado espaço, escuto perfeitamente os menores cochichos. Desde assuntos sérios até futilidades, também palavrões não ditos às pessoas a quem eram referidos numa raiva obscura pela hipocrisia, entre outros casos. Observo até pequenos furtos!

Ah, quem me dera falar! É o único atributo que não me é dado... Ouço muito bem, enxergo com precisão, pois vejo somente os excrementos – meus olhos ficam na região das águas. Agora falar?! O único som que possuo é aquele grito horrendo de quem engole o que não gosta... E por vezes a modernidade está diminuindo meu grito de pavor. Quase chegando ao “grito silencioso”. Um dia chegarão a essa tecnologia de banheiro e assim serei substituída, aposentada de minha função.

Certa vez, vi um caso muito estranho... Uma senhora me utilizou para os que muitos chamam de número dois – os despejos dos sólidos para quem não conhece... Depois de executar sua obra-prima e dos atos higiênicos, vestiu-se , mas não arrumou devidamente a saia que usava, ficando esta suspensa mostrando suas celulites. “So disgusting” diriam as gringas. Pelo jeito não percebeu mesmo e ninguém lhe foi gentil, pois em questão de segundos explodiam risos no meu “privado” ambiente.Mulheres de todas as idades e até mesmo as crianças riam. Algumas mais inocentes falavam para suas mães: Por que a senhora não avisou?

Era uma atrás da outra e todas as que entravam, acabavam se conhecendo por estarem ‘comentando’ algo em comum. Como é que ela não sentiu um ventinho estranho? Risos

Olha, se fosse eu, com tudo aquilo, teria vergonha de mostrar-me “para mim mesma” no espelho. Risos  Outras riam tanto que tiveram que se aliviar do número um...

Eu, privada pública, fui o objeto mais usado naquele dia... Acredito que até mesmo horas depois daquela senhora ter saído do shopping, ela tenha se transformado em atração turística, porque o caso foi comentado até no dia seguinte. Funcionárias de lojas, freqüentadoras assíduas e as que nunca tinham sido vistas antes, riam do fato.
Nessas horas é que agradeço fazer parte dos classificados objetos – essenciais – mas ainda assim objetos... Detestaria fazer parte da raça humana. Eu é quem engulo merda e ainda tenho que ouvi-las... Ninguém merece.

Andreia Cunha




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