O FUTURO A DEUS PERTENCE

 - O futuro a Deus pertence

O menino tinha ouvido aquela frase e passou boa parte do tempo pensando no que ela realmente significava.

- Sendo o futuro algo pertencente a Deus- uma pergunta ficava rodeando sua cabeça - E os outros tempos? A quem caberia o domínio do passado e do presente?

Ficava um gostinho de insegurança visto que a oposição a Deus seria mesmo o Demônio ou Dito Cujo (entre outros nomes).

Para ficar mais fácil de se entender, o mais óbvio mesmo foi comparar a um jogo de futebol. E isso ele adorava... Imaginou as duas legiões sendo preparadas por seus respectivos técnicos e a partida nas quais ambos os segmentos se enfrentariam... O futuro como o próprio provérbio diz a quem pertence... Portanto o presente era comandado por sua oposição mais relevante. O jogo haveria de guardar surpresas, mas enquanto tivesse chance de existência de futuro, o destino estaria certo nas mãos Divinas.

A multidão, tal como no antigo Coliseu romano, ovacionava seus respectivos times. Estava tudo muito igual em termos de torcida: números bem semelhantes para ambos os lados.

O elenco adentrou o campo. Os anjos, arcanjos eram os representantes divinos e estavam uniformizados com suas belas túnicas e um resplendor que quando unidos formavam um foco de luz de cegar até mesmo a torcida que os apoiava. Mas um jogo não se ganha com todos os jogadores agrupados como uma massa. Teriam de se separar e ‘gamear’ minuto a minuto tanto do primeiro quanto do segundo tempo. Para ao fim, terem a certeza de quem era o melhor pelo menos naquela partida.

Enquanto o presente não se tornasse futuro, a situação era garantida para os defensores do mal que com suas artimanhas davam um jeito de tirar vantagem em tudo o que era lance. Jogavam-se descabidamente em casos que nem havia o toque dos adversários. Mas nem com a astúcia do mal, os anjos perdiam a fé de que o futuro estava definido. O placar era certo: o futuro a Deus pertence. Além disso, esse era o lema dos jogadores divinos.

Com tanto truque, normal que o placar fosse aberto para a horda maléfica que se aproveitava das fraquezas humanas para tirar o máximo de proveito. A paciência e a misericórdia divina com relação aos árbitros era algo irritante para a torcida dos deuses que a cada malandragem gritava com o juiz e o técnico que sapientemente mantinha a calma acima dos limites humanos.

O primeiro tempo terminou com a ampla vantagem de 3X0 para os detentores da desordem. O futuro ainda pertencia a Deus e isso era um alívio para os anjos que antes de saírem de campo, reuniram-se e bradaram fortemente: “o futuro a Deus pertence”.

Ao retornarem para o segundo tempo, era a hora da reação. Nada poderia permanecer como estava, caso contrário a lei seria quebrada. Houve reação dos anjos que já tinham manjado alguns dos truques de ilusionismo para cegar o juiz e reverter as jogadas para a legião do mal. Mediante a observação dos atacantes Gabriel e Uriel foi possível adentrar com mais facilidade a pequena área para ficar de frente para o gol com jogadas muito bem ensaiadas. Não deu outra: assim que conseguiram uma brecha e resplandecendo a máxima luz que lhes refletia a alma ficou impossível do goleiro Tranca-trave enxergar o rumo da bola...

Gooooooooolllllll

E é celessssssteeeeee!

A reação da torcida que estava um tanto borocochô foi a de se levantar e reagir em olas... Entretanto, nada permaneceria tão simples e fácil... Haveria a reação e esta traria todo o tipo de mágica para reverter o processo. Porém, os anjos vieram preparados. Fizeram mais dois, empataram a partida  e mais um para deixar a dúvida pairando no ar. O tempo voava como um louco pilotando um supersônico.

E agora? A torcida já inventava jingles: Turma maléfica cadê os seus, o futuro é de Deus... Não adianta vir com planos, o futuro é dos anjos... lê leleô leleô... Olé!

Mas muitos haviam esquecido que o tempo do jogo era o presente. O tão difícil de se assimilar presente. O tempo do imprevisível instante já. E isso favorecia os atuais perdedores... Que tramaram a jogada derradeira para a vitória no NOW. Restava pouco tempo para terminar o jogo e o presente reserva sempre um presente – e este nem sempre é agradável para quem o ganha... Inesperados acontecem ainda mais nesse tempo tão inseguro. O mal pressente que o gol é agora e marcam maravilhosamente depois de um erro da zaga divina que tentava lançar a bola para frente de qualquer maneira. Um erro fatal. O placar no momento registrava 4X4.

Como terminaria a partida?

Enquanto fosse agora o Dito comemorava, mas a vitória não tinha gosto, porque mais ainda a torcida divina cantava esperando pelo minuto seguinte.

O juiz estava prestes a apitar o fim do jogo quando uma voz que não vinha dos alto-falantes do estádio soou veementemente como um vento forte prestes a desabar uma tempestade como também já havia soado em outras ocasiões divinas. Era uma voz tão cheia de poder que era impossível de ser desobedecida.

O juiz estava proibido de terminar a partida... Pelo que se sabe até hoje o jogo continua rolando mesmo porque o elenco é incansável... e nós a torcida somos o objeto de estudo desses pesquisadores detentores do bem e do mal...

Quanto ao placar? Até hoje só se tem palpites. Entretanto, muitos já não mais ligam, pois como diz o início dessa narrativa...

ANDREIA CUNHA