A Metamorfose do Cifrão - $obras
Era um símbolo e tinha noção disso... Odiava-se por ser daquela maneira entrecortado por dois traços que mais pareciam chifres. Surgiu da necessidade de quantificar valores... Não sem antes possuir um significado mais representativo: seu “S” simbolizava o caminho sinuoso percorrido por um tal de Táriq-ibn-Ziyád, general conhecido também como “o conquistador árabe”, que chegou a Península Ibérica numa peregrinação importante – dominar em nome do reino Visigodo. Nesse percurso, além de passar pelo Egito, o deserto do Saara, Líbia, Tunísia e Argélia, Táriq cruzou o estreito das Colunas de Hércules... Para marcar seu feito, ordenou que criassem um símbolo e o gravassem em moedas comemorativas. Saiu mais ou menos o que conhecemos hoje... O caminho tortuoso como um ‘s’ entrecortado por duas colunas (as de Hércules). Tudo representava a força e o poder da empreitada do general.
Obviamente, hoje ninguém mais teria interesse na história tocante de como tinha surgido, pois o primeiro significado reduziu segundo, mais poderoso: o Dinheiro... Talvez por isso, se sentisse tão diminuído, até mesmo desvalorizado... Quantas vezes, era usado para humilhar e matar... Também para destruir devido à força e o poder embutido em seu símbolo...Nas pupilas humanas, notam-se cifrões... Uns para pagarem contas e poder sobreviver em trabalhos sacrificantes e uma minoria para abarcar mais em nome da maioria escrava...
A bem da verdade, é que o cifrão aos poucos foi mudando. Suas colunas fortes aos poucos se transformaram em chifres. Sentia que seu lado obscuro crescia e se multiplicava... No início, preferia não existir ou ser aposentado de sua função. Porém, desconhecia algum outro símbolo amigo que pudesse assumir o cargo... Enfrentaria o INSS com prazer... Só para não sentir aquele peso de maldade incrustado no que agora eram seus chifres... Atualmente, eram raras as vezes em que pensava na aposentadoria, pois seu lado obscuro o dominava muito mais nos últimos tempos... Mas nos momentos de lucidez, doía-lhe todo o estômago estufado por tantos outros cifrões...
Sabia que passara por uma metamorfose ao longo dos tempos... Contudo, ela era lenta, por isso, ainda alguns lampejos de lucidez... Embora, em pouco, estaria completamente metamorfoseado na figura do Dito... Não queria aquele futuro... Mas nada poderia ser feito... Não por ele mesmo... Teria que ser por quem o usava... E isso parecia Impossível... Os homens não se importavam com ele... Aliás, não se importavam com seu lado emocional... O que importava era o Racional, Prático e sintético... O Cifrão precisava de um analista... Quem se habilitaria, quem o notaria em suas necessidades emotivas? Estava deprimido nas horas de lucidez e totalmente ensandecido em sua metamorfose na qual seu lado medonho se revelava.
Passava horas com seu lado ruim a mostra, pois o Homem – único ser capaz de modifica-lo, entende-lo e resgata-lo – estava muito mais preocupado em acumula-lo sem entende-lo em todos os seus sentimentos... O mercado financeiro era o que mais contribuía para sua metamorfose diabólica... Era lá que tudo tinha começado e pelo jeito também terminaria...
Sentia-se cansado, humilhado esfarrapado embora fosse sinônimo de poder e força... Imaginava se em vez de estar se metamorfoseando estivesse mesmo morrendo... O que viria para substituí-lo?
Não teve tempo para refletir sobre o assunto... Aquele foi seu último pensamento lúcido... O outro lado o tomou de vez e nunca mais voltou... Uma luz nele se apagou de vez e transformou-o no ser sombrio a qual tanto temia... Alea jacta est - (a sorte está lançada – quem dará o primeiro lance?)
Andreia Cunha
Andreia Cunha
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