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quinta-feira, 9 de junho de 2011

ANONIMATO

Eis o link do vídeo no Youtube e abaixo o conto escrito.



Três breves contos que tem como personagens anônimos encarando seus dias respectivamente. Existem questões ligadas ao preconceito, ao ser mecanizado pela horas de trabalho que mal repara no outro enquanto humano e, por fim, o resgate por meio de um gesto pequeno no cotidiano. São contos para nossa reflexão e degustação da vida sob um novo olhar na qual se deve valorizar nossa existência nos detalhes e não na superficialidade material a qual estamos sujeitos por compromissos inadiáveis pendentes da vida moderna.


Anonimato
Anônimo na vida e da vida. “Boa tarde, Boa Tarde!” Naquele dia seus olhos marejaram. Há muito não se sentia participante do mundo. Na condição de olhares alheios, era um invisível.
Alguém o enxergara! E nem precisou mendigar dessa vez! Aquele sorriso angelical inundou seu dia de luz como se o sol pedisse licença para as nuvens e não o impedissem de brilhar.
Os amigos de praça também responderam em longo comprimento de voz:“taaaaaaaaaaaaaaaaarrrde”
Toda sua vida valeu no mundo ali.
Adentrou a sala na qual estavam os colegas de trabalho. Cumprimentou-os. Entretidos em seus casulos, a maioria não respondeu e, os que se dignaram, falaram entre os dentes um “tarde” árido. Cada qual em sua função fixava os olhos na atividade que deveriam exercer até o fim do dia. Tontos nos turnos.
Turvos dos olhos e da alma.
Ao se uniformizar com a camiseta não se tornava. Deixava de ser o ser que era. Servia sorvetes mistos de um preço barato.
Na época de verão, era tal como a máquina que solidificava o creme e era esparramado na casquinha. Não a percebiam, aliás nem a viam. Era apenas a mão que entregava o objeto de desejo. Olhos tão frios quanto o creme que servia.
O chão? Brilhava! Mármore de primeira. Até que foi olhada nos olhos. “Por favor, uma só de creme”... “Obrigada”
O olhar respondeu silencioso. Um contato divino foi restabelecido. E houve luz.


Andreia Cunha

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