Powered By Blogger

domingo, 12 de junho de 2011

FLORESTA URBANA

FLORESTA URBANA
Os grilos urbanos emitem seus sons na fúria de movimentos com a pressa de chegarem em seus destinos. Na imensidão da floresta, formigas carregam folhas de culpa e cansaço de um trabalho que consome. A única alegria é consumir e comer – sensação de que o fruto desse trabalho vale a pena mesmo com o cheiro premente da morte em pisoteios diários. As abelhas escondem-se em seus casulos-moradias após trazerem o néctar das flores artificiais que se transformarão em fel a ser consumido como bebida essencial, o óleo que movimenta toda essa engrenagem doente. 

Todos operários que dizem “Deus ajuda quem cedo madruga” e ao final caem insensíveis tomando pílulas ditas mágicas para no próximo dia seguirem na rotina estonteante do estúpido prazer construído na dor.
Insetos ensandecidos se esquecem de como deveria funcionar o sistema. Mas o sistema quer o esquecimento, o total apagamento da memória. A alimentação é um desses recursos. “Comei da ração que vos é oferecida, melhor comer a lavagem do que morrer.”  E tal como planejado sem saber, os porcos engordam na angústia de seguirem na contramão do que é ditado pela moda. Um gosto de dês-gosto. Nada cabe, nada entra... 

O suor do trabalho se esvai no desejo de entrar nessa figura geométrica que entala e engessa do pensar. Beba o que nós oferecemos  - é bom, refrescante mesmo que em sua química haja componentes capazes de explodir bombas - isso vos deixa pacatos prontos para serem somente servis ao que vos é imposto - imposto. Gordura, farinha, açúcares, bolotas, nos corpos-bolostrôs enquanto rodopiam nos eternos labirintos de uma suposta vida em busca de uma felicidade externa que por isso mesmo nunca virá. 

Por não haver interioridade nesses seres ocos, surgem as doenças, as do século, as do século passado e as pessoais-coletivas – a maioria adormecida se prende nesses laços emaranhando-se ainda mais nos fios tênues do esquema ardilosamente arquitetado por cabeças que usam o conhecimento para domínio e poder custe o que custar.
Alguns outros também adoecidos despertam não se sabe como, percebem a malha que encobre abarcando a maioria dos peixes seduzidos pela isca. Peixes que nadam no asfalto, rastejam-se pensando que vivem. Tão mortos e já mal-cheirosos vislumbram com os olhos arregalados, típico dos peixes, o mundo como se ainda vivessem no desfrute de águas mansas. Até que a próxima tsunami do mercado levante em crise e os arraste para o submundo da falta de dignidade. Apodrecidos e apodrecendo aos olhos dos urubus citadinos que voam em círculos como numa dança estonteante de uma festa que segue seu curso: Discurso.
Fuligem, falange – forças capazes controladores de mentes e massas. Morte do corpo e da alma. Dez vezes mata no desmate. Corte.Mato da morte.

Andreia Cunha






Nenhum comentário:

Postar um comentário