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quinta-feira, 9 de junho de 2011

PEQUENO DE SEGUNDA ORDEM

O Homem A Palavra

Há momentos em que a verdade se revela aos poucos - em doses homeopáticas e, de repente, some de nossas mãos como água.  Ficamos sem jeito perante a vida, mas enfim temos que continuar a jornada. Este conto  nos fala sobre esses momentos.





Por um átimo de segundo teve todo o mistério do universo revelado em seus olhos... Foi seu último gesto que a fez se enxergar e a enxergar o mundo também...  Tão claro e ao mesmo tempo tão escuro... O óbvio era assim: revelado e ao mesmo tempo retirado da memória... E com ela não poderia ser diferente... Como um sabonete molhado, todo o  segredo da verdade universal lhe fora dado e também retirado. E ela continuava ali sem jeito para continuar a vida...

 Como se fosse uma estátua de cera, petrificada em sua palavra derradeira. Era igual a seus pais... Tanto os detestara  em suas manias que agora se via no mesmo lugar. Ao repreender a filha, percebera o quanto carregava do mundo – o seu  em particular – para o mundão afora. O que a fez se perceber e também se despertar naquela atitude tão abominada de  tempos atrás? Será que fora o outro eu que lhe mostrava que no futuro escorregaria em suas próprias palavras? 

Sua mãe bem que lhe dizia que quando tivesse filhos saberia como é... Dito e feito, não era em nada diferente... Apenas  criticara-os como a maioria dos adolescentes faz, sem conhecer o futuro que os espera... Fora um tapa com luva de pelica dado por seu outro eu que se escondia entre seus dentes e suas mãos. Talvez agora sim, estivesse vivendo, pois o seu antes era apenas uma cópia malfeita tentando ser a original sem chances de passar como verdadeira...

Da mesma maneira que isso a incomodava, também lhe trazia um alívio porquenão precisaria de outra vida para perceber seus erros.Teria a oportunidade de nessa própria vidinha abstrair a seiva que paira no lago de seu interior.Ah, interiores!!! E o de sua casa estava mesmo péssimo... Uma reforma cairia bem... Em ambos os sentidos... Seu eu interior pegara-se em confusão pelo fato de ter que suportar a igualdade tão temida... Almejava o silêncio na mente, mas este não a deixava... Quanto mais queria, menos conseguia como se fosse um rádio com vontade própria para aumentar seu volume sem precisar da mão que se achegue para ele... 

Aquele segundinho foi a personificação de todo o universo interior ínfimo-micro de si... Mas ao mesmo tempo tão grandemente macro que ao sair do transe só pôde ficar observando as paredes de sua casa, como se assim pudesse fugir do seu estado interior de alma lavada nas águas da purificaçãocomo num batismo religioso.A filha percebera aquela fraqueza da mãe e após um tempo do olhar sem nada entender, perguntou o que tinha acontecido. A mãe disse algo diferente do que pensava para não ser pega naquele ato de fraqueza de um passado que a menina desconhecia. Disse apenas que se lembrou de havia esquecido algo essencial: o pagamento de uma das contas mensais. Meio para disfarçar seu ser cheio de surpresas líquidas bombeando tanto o cérebro quanto o coração.

Teria de ser forte. Agora sim, teria de ser além dela mesma. Caso contrário, como poderia requerer daquele seu broto em crescimento que não fosse tão torto quanto agora se percebera?... Viver era assim mesmo.Não poderia vivenciar as experiências fatais que a filha teria, mas pelo menos poderia indicar-lhe o melhor caminho. Seguindo ou não, essas seriam as experiências únicas de sua filha e
 de mais ninguém, por mais que quisesse protege-la do que, por erros e acertos, já sabia. Deixou as pensações de lado para um momento em que estivesse só com ela mesma e mais ninguém... Aquele segundo foi o seu pequeno de segunda ordem mais importante para continuar agindo num mundo que exigia ações constantes sem muito tempo para reflexões prolongadas.Adiaria sim, para um outro segundo...

Mas somente adiaria...


Andreia Cunha


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