Powered By Blogger

terça-feira, 21 de junho de 2011

MALTRIPLICAÇÃO

CONTO SELECIONADO PARA O LIVRO: 
CONTOS DA MADRUGADA - EDITORA CBJE.


Uma gigantesca explosão... Deu-se assim o início daquela nova era. Os seres que ali estavam, não perceberam, a princípio, que aos poucos foram contaminados por aquele gás verde. Alguns não entendiam o que estava acontecendo, porém sabiam que boa coisa não era pelo tumulto causado e pela turba dispersa em correria pelos corredores labirínticos daquele ambiente aparentemente em festa. Os que, por infortúnio, estavam mais próximos àquela situação foram os primeiros a provarem dos efeitos.

Os olhos pacatos eram os primeiros indícios de uma série de mutações que, por fim, os transformariam em seres detentores da seiva do mal. Aos poucos, a pele também ganhava tons esverdeados e as atitudes, na sua maioria, antes voltadas para o bem se metamorfoseavam em sementes disseminadoras do mal e de um profundo egoísmo que continha odores de guerra e morte. Os seres contaminados conseguiam espalhar com facilidade sua seiva maldita, pois ao tocarem qualquer coisa viva imediatamente o vírus se instalaria no novo ser.

Em poucas horas, a população era uma massa verde pestilenta que não se entendia, que gritava as piores palavras uns aos outros e, por motivo tosco, tiravam a vida de seus antigos semelhantes-amigos.

Imperava o total desrespeito ao alheio fosse ser-vivo ou algo que pertencesse a um ser-vivo.

Uma pequena legião conseguiu se salvar e vivia enclausurada em lugares destroçados que mais pareciam cavernas urbanas. Ali, estariam a salvo não sabiam por quanto tempo. Entretanto, o crescimento da onda maléfica os atingia.

De momentos em momentos, quando as necessidades aumentavam, principalmente a fome, estes tinham que bolar estratégias para conseguirem algum alimento. Tudo isso, já estava causando entre estes poucos dissensões influenciadas pelos ares igualmente contaminados pelos gases. O medo era ao mesmo tempo um aliado e também um grande inimigo. Tudo o que aquele pequeno grupo desejava era estar entre o bem, mas mesmo entre eles o mal estava começando a imperar, pois as confusões se tornaram mais freqüentes.

Eles eram os últimos sobreviventes à maltriplicação – termo usado para especificar o que tinha acontecido.
O mundo exterior não tinha mais solução era “olho por olho e dente por dente”.

O grupo seleto não resistiu por longa data quando enfim a guerra se instaurou entre eles devido às necessidades cada vez maiores. Tons esverdeados, feito musgo, já recobriam a pele de alguns sem que estes mesmo notassem, pois a mudança era coletiva.

Em poucas horas, todos já estavam reféns do mal.
Quando a mudança chegou ao último ser escondido, no exterior, algo inusitado já estava acontecendo. A imensa multidão estava recoberta por uma fina camada de terra e estes percebiam que mesmo chafurdando na lama do mal, sentiam falta de amor. 

Ainda existia a paixão pelo semelhante, a necessidade de procriação e, nesse caso, o sentimento positivo não estava totalmente desvinculado da necessidade dessa atração. Aos poucos, o que se via era que essa atração estava redimindo-os daquele mal que os dominara. Ao nascerem os filhos, ainda existiam resquícios do bem, a vida inicial antes da explosão.

A fina camada de terra transformou-os numa só massa e seus corpos viraram sementes que logo brotariam e gerariam o SUPREMO BEM novamente.

Era necessário que todos estivessem contaminados para que a natureza pudesse finalmente, por fim a era do mal que se espalhara como uma imensa onda de poeira. A fênix, enfim, continuava viva debaixo das cinzas.

Andreia Cunha












Nenhum comentário:

Postar um comentário