Seu ofício era o da construção. Traçava e delineava linhas
retas e curvas com a máxima precisão para depois os colocar em prumo na pétrea
realidade.
O maior problema estava em não considerar um determinado universo
distinto como um dos aliados importantes para manter seus projetos firmes e
fortes.
De qual universo me refiro? Ah sim tenho de denominá-lo: os
sonhos. Sim, sonhos são universos distintos que podem parecer distantes, mas
que, no entanto, são primordiais para o esteio de qualquer construção como as
que produzia em seus esboços.
Em sua pressa diária, esquecia-se das aulas de Arquitetura
Onírica e abdicava desses conhecimentos para suas construções belas e
publicamente admiradas.
Até que um dia, observou um dos monumentos que ornamentavam
a entrada da belíssima construção encabeçada por seu nome no projeto. A cada
ângulo, uma mensagem diferente, uma nova imagem, um novo parecer. Parecia se
refazer a cada giro e, por isso, ser relida e ser refeita em cada olhar novo e
atento.
Antes não observava tais detalhes, mas aquela em particular
lembrava-lhe oras um gramofone aéreo, oras uma caravela apontando para o norte,
oras uma asa com o bico pontiagudo de uma ave, uma vela velejando calmamente
por um mar sereno ou simplesmente um arco muito bem tracejado e colocado em
prática por mãos ágeis e alheias de trabalhadores braçais.
Não findava ali as possibilidades, de modo que perdeu a
noção das horas dando giros ao redor da peça um tanto mais alta que seu corpo.
Seus olhos brilhavam, latejavam e gotejavam o sal líquido de seu corpo, não de
choro mas de um contentamento redentor de quem percebe a vida além das pedras e
durezas as quais havia sido ensinado a conviver.
Foi ali que sentiu um ressurgir de alma limpa e pura, doce e
ingênua tal como a criança que um dia fora e agora parecia renascer.
Andreia Cunha
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