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terça-feira, 1 de maio de 2012

UMA ARQUITETURA DIVINA




Seu ofício era o da construção. Traçava e delineava linhas retas e curvas com a máxima precisão para depois os colocar em prumo na pétrea realidade.

O maior problema estava em não considerar um determinado universo distinto como um dos aliados importantes para manter seus projetos firmes e fortes.

De qual universo me refiro? Ah sim tenho de denominá-lo: os sonhos. Sim, sonhos são universos distintos que podem parecer distantes, mas que, no entanto, são primordiais para o esteio de qualquer construção como as que produzia em seus esboços.

Em sua pressa diária, esquecia-se das aulas de Arquitetura Onírica e abdicava desses conhecimentos para suas construções belas e publicamente admiradas.

Até que um dia, observou um dos monumentos que ornamentavam a entrada da belíssima construção encabeçada por seu nome no projeto. A cada ângulo, uma mensagem diferente, uma nova imagem, um novo parecer. Parecia se refazer a cada giro e, por isso, ser relida e ser refeita em cada olhar novo e atento.

Antes não observava tais detalhes, mas aquela em particular lembrava-lhe oras um gramofone aéreo, oras uma caravela apontando para o norte, oras uma asa com o bico pontiagudo de uma ave, uma vela velejando calmamente por um mar sereno ou simplesmente um arco muito bem tracejado e colocado em prática por mãos ágeis e alheias de trabalhadores braçais.

Não findava ali as possibilidades, de modo que perdeu a noção das horas dando giros ao redor da peça um tanto mais alta que seu corpo. Seus olhos brilhavam, latejavam e gotejavam o sal líquido de seu corpo, não de choro mas de um contentamento redentor de quem percebe a vida além das pedras e durezas as quais havia sido ensinado a conviver.

Foi ali que sentiu um ressurgir de alma limpa e pura, doce e ingênua tal como a criança que um dia fora e agora parecia renascer.

Andreia Cunha




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