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sexta-feira, 18 de maio de 2012

TOMAR (o REMÉDIO), DOMAR (a PALAVRA) E DOSAR (AMBOS).





Doente, foi ao médico a procura de ajuda para aliviar as dores e a impaciência advinda com o pacote como presente de grego.

No consultório, lotado como sempre, percebeu que outros tantos se queixavam do mesmo problema. Seria uma epidemia? Não quis encucar e portanto se fixou no único assento livre na sala de espera.

Tal lugar era totalmente o oposto à direção em que se colocava a maioria. Na verdade, de onde estava parecia mesmo ser um professor orquestrando uma sala de aula, porém os alunos ali eram bem diferentes: inquietos e doloridos tentavam se distrair com os muito falares corriqueiros.

A princípio, ele lia vorazmente a revista que acabara de comprar, no entanto, o barulho juntamente com as dores e o entrar e sair de pacientes o deixavam em absurdo estado de alerta, incapaz de adentrar as entrelinhas calmamente como gostaria de fazer.

Quando por fim foi chamado e adentrou o consultório, pensou que teria o tal sossego em solução, mas o que obteve foram mais palavras do médico que enquanto o consultava entre uma pergunta e outra degustava em suaves e audíveis crecs seus biscoitos de polvilho (que pela hora deveria ou ser o seu almoço tardio ou uma tentativa frustrada de café da tarde) enganando o estômago faminto.

Tudo eram palavras e o que ele mais queria era o silêncio. Até o rabiscar da caneta lhe doía os ouvidos da alma. No receituário, mais recomendações em palavras que deveriam ser convertidas em comprimidos a serem tomados em horas reguladas.

Aquilo tudo era alucinante e parecia um labirinto na qual precisava sair para ser ele mesmo sem dores e inquietações causadoras de suas angústias do momento.
Converteria as palavras em remédios e as tomaria com fervor na ânsia de se ver livre das dores paralisantes.

A volta seria um contar de passos palavreados pela farmácia que após convertidas em capsulas deveriam ser engolidas com um pouco d’água. O após seria encontrar o tão esperado silêncio, provável redentor de seu espírito.

No papel, tudo era selado com mais letras e a marca de um carimbo, na realidade a cama o esperava quieta, apenas de braços abertos.

Andreia Cunha






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