Doente, foi ao médico a procura de ajuda para aliviar as
dores e a impaciência advinda com o pacote como presente de grego.
No consultório, lotado como sempre, percebeu que outros
tantos se queixavam do mesmo problema. Seria uma epidemia? Não quis encucar e
portanto se fixou no único assento livre na sala de espera.
Tal lugar era totalmente o oposto à direção em que se
colocava a maioria. Na verdade, de onde estava parecia mesmo ser um professor
orquestrando uma sala de aula, porém os alunos ali eram bem diferentes:
inquietos e doloridos tentavam se distrair com os muito falares corriqueiros.
A princípio, ele lia vorazmente a revista que acabara de
comprar, no entanto, o barulho juntamente com as dores e o entrar e sair de
pacientes o deixavam em absurdo estado de alerta, incapaz de adentrar as
entrelinhas calmamente como gostaria de fazer.
Quando por fim foi chamado e adentrou o consultório, pensou
que teria o tal sossego em solução, mas o que obteve foram mais palavras do médico
que enquanto o consultava entre uma pergunta e outra degustava em suaves e
audíveis crecs seus biscoitos de polvilho (que pela hora deveria ou ser o seu
almoço tardio ou uma tentativa frustrada de café da tarde) enganando o estômago
faminto.
Tudo eram palavras e o que ele mais queria era o silêncio.
Até o rabiscar da caneta lhe doía os ouvidos da alma. No receituário, mais
recomendações em palavras que deveriam ser convertidas em comprimidos a serem
tomados em horas reguladas.
Aquilo tudo era alucinante e parecia um labirinto na qual
precisava sair para ser ele mesmo sem dores e inquietações causadoras de suas
angústias do momento.
Converteria as palavras em remédios e as tomaria com fervor
na ânsia de se ver livre das dores paralisantes.
A volta seria um contar de passos palavreados pela farmácia
que após convertidas em capsulas deveriam ser engolidas com um pouco d’água. O
após seria encontrar o tão esperado silêncio, provável redentor de seu espírito.
No papel, tudo era selado com mais letras e a marca de um
carimbo, na realidade a cama o esperava quieta, apenas de braços abertos.
Andreia Cunha
Nenhum comentário:
Postar um comentário