Seu maior tesouro estava guardado na carteira e era assim
que todos os dias seguia sua rotina de ida ao trabalho. Antes mesmo de sair
conferia se tudo estava lá como no dia anterior.
Aos olhos alheios poderia parecer um certo toque, mas sua
vida já o havia conduzido por caminhos
aos quais seu melhor modo de agir era esse, hoje, por ele estipulado. Não morreria
caso não fizesse o ato como de costume, mas algo lhe faltaria como uma peça de roupa
essencial.
As mesmas horas, a tomada de ônibus e depois o metrô até a
décima terceira estação onde desceria e caminharia umas cinco quadras até
chegar ao local de trabalho. Lá mesmo, voltava a olhar o tesouro bem guardado
na carteira, antes de se pôr aos afazeres do dia.
Entre burocracias e cobranças, a realidade se seguia morna
tal qual seu almoço: uma marmita com arroz e feijão com um suco preparado num
copo de requeijão. O novo não lhe pertencia, não batia a sua porta.
Por isso, o se ater à carteira como vida no olhar constante do
que ali guardava. Após mais cinco minutos de descanso, o retorno ao trabalho
até a hora derradeira de voltar para casa.
O cansaço era seu companheiro e muitos tanto no metrô quanto
no ônibus eram os que compartilhavam da mesma situação.
Não via os filhos retornarem e, quando ele chegava, as crianças
já estavam dormindo. A esposa o recebia igualmente cansada por sua lida que
também não era fácil por ser dupla, às vezes tripla ou quádrupla.
O tempo era para o jantar e ainda de estômago cheio tomar um
banho e dormir. Não sem antes olhar a carteira onde residem seus filhos
despertos e sua esposa feliz num sorriso de passeio de fim de semana ao zoo.
Andreia Cunha
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