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sexta-feira, 25 de maio de 2012

O HOMEM DO SONHO




Sonhei um homem...

Era perfeito dentro de suas possibilidades de perfeição. A seu lado uma roupa de mergulho e mais adiante um escafandro, ambas a convidavam para um mergulho. Cada uma dentro de suas condições de profundidade.

Ele, entre calmo porém um tanto ansioso para iniciar o sonho narrativo, percebeu que logo ao nascer, teria que escolher uma ou outra. Tarefa difícil justo para ele que viera ao mundo já adulto e pronto.

Pronto é palavra pretensiosa e isso  só era justificado em suas estruturas externas. Acolheu o escafandro como modo de mostrar que apesar da pouca existência definida ainda por segundos era capaz de ir além dos limites do próprio criador que o desafiava como narrador a tarefas aparentemente difíceis.

Não tivera infância, não sabia se teria figuras representativas de pai e mãe e até irmãos. O que verdadeiramente importava era aquele quadro na qual fora colocado e que por isso mesmo nascera.
Algo inexplicável começava a doer-lhe na alma. Era a dúvida nascendo em seu coração e mente. O princípio do ponto de interrogação começava em seu cérebro e se fixava no ponto vital de seu corpo chamado coração.

Vestiu o escafandro para que a dita dúvida em dor não o consumisse em algo que tentava derramar de seus olhos. Mal sabia que um outro antes dele já havia chorado o suficiente para encher um oceano, o mesmo o qual nadaria agora.

Sem maiores ajudas adentrou a embarcação que o aguardava com a equipe que o auxiliaria. Os integrantes pareciam entender o que deveria ser feito e, por isso, muito mais experientes em vivência do que ele, marinheiro de primeira viagem.

Nada fazia a dúvida parar de crescer dentro de si e já era o momento de adentrar as águas primeiras até as abissais. A serenidade e os sons do interior marinho seriam seus companheiros. Teria de lutar contra eles para não enlouquecer sem as palavras que o haviam formado como criatura primordial da comunicação.

Tarefa árdua a sua. Mas se fora criado para tal é porque em si havia estrutura suficiente para enfrentar com destreza. Não sabia exatamente, mas pensava assim para confiar em algo superior a tudo que teria de desempenhar sem maiores verdades racionais.

Já não havia chão e as cenas ondulavam em seus olhos recobertos pela proteção da roupa. Tudo era realmente divino naquele interior, pena que poucos tinham a chance de ver...
Era comovido e estava tocado pelo Superno que o alimentava com maiores surpresas. No entanto, a dúvida também o enchia como se furada a roupa estivesse deixando aquelas águas sucumbirem seu ser...

Já era tarde para parar de derramar o líquido dos olhos, era muita verdade para uma só existência e o oxigênio era retirado do ar, não da água avisar os superiores não lhes daria tempo suficiente para retirar do oceano sem totalmente ser inundado pela próprio oceano que de si brotava em lágrimas, suor, urina e sangue.

De modo que se deixou inundar ali como se aquilo fosse o motivo de sua existência: avolumar as águas. Era verdade demais para um só corpo frágil e sua mente desperta pressentia que a morte não se detinha ali naquele corpo frágil e fugaz. Entre um misto de felicidade e angústia produzida pela dúvida que agora formada e brilhante se desprendia em onda e peixes o consumia e o elevava a condição de mestre.

Entre nadas que nadam começou sua nova existência.

Andreia Cunha








Um comentário:

  1. Brilhante, sublime, tocou-me como o cavaleiro dos espelhos tocou Quixote.

    Beijos doce professora.

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