A idéia veio clara. Era linda. Quando tentou colocá-la no
papel. Todo o mistério sumiu.
Não sabia onde estava, mas supunha ser em algum lugar nos
limites do sonho. Se viu perambulando terras desconhecidas na tentativa de
entender o que era tudo aquilo.
Sendo um sonho, tudo condizia com o que esperava. Muita paz
em campo fértil e florido, seus pés afundavam a grama fofa, quando se viu
rodeado de pessoas amigas.
De repente, uma escada se afigurou no meio do sono. No meio
do caminho tinha uma escada. Tinha uma escada no meio do caminho. Diria se
fosse Drummond. Mas não o era, caso encontrasse um tigre ou jaguar, talvez
pudesse ser Borges. Entretanto, só havia mesmo degraus, então supôs que poderia
estar dentro da obra de Charles Dodgson no pseudônimo de Lewis Carrol.
O que esconderia as profundezas abissais da escada? Não
havia mais pessoas amigas a seu redor. Tudo eram curiosidade e desejo.
Embrenhou-se. Sentiu à medida que descia seus pés sendo
ensopados juntamente com um som de mar e ondas se quebrando. Seria uma aventura
marítima de Joseph Conrad? Adentraria o oceano e vislumbraria os segredos nele
contidos nas 20 mil léguas submarinas de Julio Verne?
Era muita literatura e mais ainda ansiedade. O ambiente
esfriava e escurecia. Na verdade, deixava os limites do sonho e adentrava o
universo inferior, a caverna platônica onde monstros poderiam ser despertos. Ele
mesmo poderia ser um deles... O perigo agora o atraía. Queria vivenciá-lo em
toda a sua extensão.
Aquele local teria extensões? Saberia encontrar a volta? Se
estava ali, pensava que algo ou alguém poderia ajudá-lo tal como Virgílio em A
Divina Comédia de Dante Alighieri. Sentia segurança, até ser envolvido no mais
completo terror a La Alfred Hitchcock.
Em meio a um oceano que se revoltava cada vez mais, uma onda
o encobriu e surgiu um Kraken mitológico.
De repente, tudo começou a se diluir em pó. Grãos de areia
consumiam o mar que virou o universo desfazendo-se em forte vento. A via láctea em pó não era mais um ninho.
Estava mais para o leite Ninho que sem aconchego não substitui o leite
maternal.
O dito leite racional bíblico e sem malícia. Como tudo
desmoronava, percebeu que seu ser é quem sumia e enfim desaparecia deste mundo
a qual sua insana mente criou. Percorreu o sono, adentrou os sonhos para descer
aos níveis do pesadelo.
O mar? Seu suor. O medo, seu companheiro e um tanto de
silêncio colaboraram para a viagem.
Sair dependia do contexto e do despertador que tragicamente
não o avisava que já era hora de acordar. O desespero-tormento só parou quando
suave mão o tocou. Viu. Era a sua desdobrada em muitas outras. Mas será que
sabiamente o conduziam a vida vivida novamente?
Andreia Cunha
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