Havia ali uma caixa. Seis médicos adentraram o local onde
ela se encontrava. Fez-se silêncio total, completo e absoluto.
Muito sérios e cobertos de razão mantinham os óculos bem abaixo
da altura dos olhos como se estivessem sempre lendo. Ela, assustada por ser
interpelada por uma equipe, mantinha o corpo arregalado tanto quanto as pupilas
acentuadas e evidentes.
Difícil seria examiná-la, visto que aquilo mais parecia um
mutirão levando a morte do que necessariamente a cura para seus problemas de
saúde. Para evitar desconforto, a seu lado mantinha uma caixa do tamanho de uma
folha A4.
O conteúdo parecia ser pesado, pois era com certa
dificuldade que a pegava quando queria se livrar dos chatos de plantão. Ninguém
ousava desafiá-la a abrir o tal pacote: vai que houvesse uma bomba!
Ela só ameaçava pegar a caixa, olhava com cara de insana
lucidez – a mesma que cega os doentes mais loucos – que todos se afastavam como
que perplexos pelo que poderia depois disto acontecer. Pagar o preço? Ninguém
queria.
Ouviam-se histórias de que em outros hospitais nada ficava
no lugar para contar o que restava em pé após a abertura da caixa. Embora não
soubessem se tratar de fato ou apenas boatos.
Em sã consciência nenhum dos que ali trabalhavam queriam
arriscar a ser a próxima vítima da louca da caixa. Então a aturavam burlando
algumas raras vezes os meios para aplicar-lhe os remédios.
Não era violenta, era até uma das mais pacatas o que a
tornava até simpática no seu modo de agir. Mas com loucos não se pode confiar. Portanto,
era só que a maior parte do tempo ficava.
Quando, por fim, partiu vítima de um surto intenso de lúcida
verdade é que os médicos e enfermeiros puderam dar cabo do mistério. Com uma
equipe antibombas e um pessoal especializado em objetos suspeitos é que puderem
finalmente dar cabo do enigma.
E o que lá dentro tinha?
Uma intensa gargalhada presa sob os dentes de uma muito
desalinhada dentadura que insistia em se manter ativa até que alguém corajoso a
libertasse para contaminar o mundo ao seu redor.
Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha...
Andreia Cunha