Não é possível que até hoje tenha escrito tantas besteiras. Nada do que fiz em palavras é capaz de me montar, de me dizer, de me fazer sentir inteira. Todas, sem exceção, apenas criaram a ilusão de uma completude e/ou uma maturidade que só se alcança no jamais em palavras. É fora do léxico que se é realmente. Não há definição para esse ser que nega se definir em letra após letra e ainda assim nada diz de quem se é.
Os verbos escritos não são os mesmos ditos e muito menos os praticados, tentar decifrar em código - enigma da língua é fraqueza terrena de quem a tudo quer tomar posse pela palavra, sejam estas num discurso, numa descrição, argumentação, ou meramente narração...
Mas o mais incrível é que mesmo tendo noção dessa imperfeição, incompletude e consequentemente incapacidade, me torno cada vez mais servil a ela – palavra que causa essa ânsia de compreensão do eu, do mundo, no mundo e para o próprio.
A sensação é a de que jamais terei a chance de olhar os fatos do alto, em distanciamento enquanto tiver a palavra como meio de significação e ressignificação do eu no tempo e no espaço tanto exterior quanto interior. Cada vez mais ilusórias elas se multiplicam na boca de quem delas necessita para se expor e também se fazer entendido.
Como posso querer explicar todo esse universo latente que agora me tange em dor se isso é tão particular quanto me despir no lugar mais íntimo da casa em que habito?
Olhar nos espelhos não adianta, assim como explicar em palavras: essa incerteza de exposição de ideias não é por falta de palavras é por não saber escolhê-las com clareza para o que de fato não tem como ser explicado com palavras. Simples e ao mesmo tempo tão complexo.
São versos e reversos incompletos desses tantos multiversos que me habitam e afloram de tempos em tempos. Maré mar maremoto oceano de eu.Mim.
Andreia Cunha
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