Desde pequenina quando ganhava presentes era sempre de modo brusco que os desempacotava. Sua voracidade era a de quem sente a felicidade mais no decifrar o que tem por detrás do que necessariamente os cuidados com o papel em si.
Essa atitude incomodava os pais e os mais próximos. Não reparavam na felicidade da menina e sim na etiqueta em como se deve abrir sem exageros: delicadamente... Mas para ela não havia meio termo. Era dos 8 ou 80. Se fosse devagar, jamais abriria,de modo que era no exagero que era alegre no jeito criança de ser.
Hoje, com quase trinta anos, ela sabia ter muito a aprender, mas continuava a desembrulhar os presentes a seu modo peculiar e nisso incluía também os papéis sociais. Em relação à vida assumira os tantos quantos lhe eram proporcionados, seja na família, na profissão e por aí afora...
Só não podia negar seu toque pessoal. Afinal não deveria ser respeitada no meio que queria desembrulhar seus papéis na vida? Quando criança, o que determinava ter mais sutileza eram os motivos do papel. Isso poderia fazer com que ela desejasse não rasgar determinado desenho por um apego sentimental tanto ou mais que o presente ali escondido.
Enfim, fosse o modo que fosse, sua atitude também em adulta acabava causando desconforto. Era tida como a ovelha negra, pois os demais familiares jamais ousaram atos tão radicais. Era nas aparências e etiquetas que agiam.
Consideravam o rasgar papéis sociais uma tremenda falta de educação. O que obviamente para ela não o era. Nisso relembrava os falares da mãe lhe ensinando a tomar o máximo de cuidado para não os estragar.
No fundo no fundo, ela não se importava com isso e sentia muito tristeza em ter de seguir aquelas regras. Pensava: Afinal, para que servem os papéis de presente? Cobrir, enfeitar, criar curiosidade, incitar a imaginação para serem rasgados?
Era para causar felicidade, por isso mesmo não se permitia o empacotamento nesses conceitos embaraçosos. Ela era a própria surpresa livre dos mistérios esconde-aparece.
E isso era conflitante e demasiado revelador para os adultos frustrados. Atualmente, tinha vago conceito da inveja que causava por exercer sua liberdade apesar das etiquetas.
E seus pensamentos continuavam no questionar em falas: após abrir o presente com certeza o fim do papel é o lixo, sendo rasgado ou não. Para isso não precisa ter formalidades! Rasga-se e pronto! Ser feliz é o que importa.
Foi assim que conseguiu manter sua posição mesmo a contragosto. Claro que antes ponderou sobre ambos os aspectos, mas por fim o que ficou decidido era que ser feliz é o melhor selo que se pode carregar independente dessas etiquetas que nada dizem e só são aceitas por quem não as questiona na sua profundidade.
Ela? Ah ela não dependia mais disso.
Andreia Cunha
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