Quando penso estar em regiões abissais, há uma reviravolta e o que antes era profundo se transforma em imensa altura.
Esses ciclos são estranhos, caóticos e interessantes, mas, sobretudo, primordiais para determinados entendimentos.
Sei que o que digo é muito vago, como peixes flutuando em ar, no entanto, penso e não me arrependo em pensar que querer ter certeza de tudo é loucura, é um terrível despautério.
O que no máximo podemos fazer é tentar nos remontar como quebra-cabeças transformando a vida em arte sem pretensões de definições concretas e absolutas.
Para não enlouquecermos nesses mares e nem sumirmos nas alturas que conduzem ao infinito é que tendemos para a arte. Alguns mais, outros menos. A arte é a forma mais densa, sutil e verdadeira de ressignificação do mundo por intermédio de nossos sentires falhos e tendenciosos. Daí provém sua contradição: remonta, mostra e esconde tudo em si e do ser criador a um só tempo.
O universo da arte é a imaginação – terra mais fértil não há. Nela, criamos e recriamos o mundo com ou sem personagens, pinturas, palavras e imagens, sons dilemas, equações e problemas, filosofia, dança ,escultura e magia - sonhos e fantasias trazendo para a realidade o que de mais belo pode haver no ser humano – a beleza da vida e o amor pelo estranho desconhecido que somos e por mais que queiramos ainda seremos até o nosso último suspiro.
Por isso, cada letra é uma partícula da minha vida, um pedaço de mim que se une a outros e a cada dia se faz e se refaz em inúmeras possibilidades – tão infinitas quanto à alma que ainda desconheço em essência. Apesar de almejar a paciência é por vezes na falta dela que me revelo e volto a seus braços quando por descanso o corpo almeja o tanto sossego.
Há em mim um ambíguo desejo que me impulsiona tanto a calmarias e tormentos. Não vivo sem eles, não vivo sem as palavras e por isso digo não vivo sem esse eu que está em mim.
Fim.
Andreia Cunha
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