O pai, um homem bem sucedido nos negócios. O filho, a cola que tenta acompanhar o pai. Assim era Dédalo-Aiki e Ícaro-Tór. Mesmo com todos os indícios levando a um desfecho negativo, ambos foram em frente. Aprisionados no labirinto da Arrogância permaneceram até que a Mágica Criatividade adentrasse a mente do mais inteligente: Dédalo, inventivo criador de coisas por conta do poder alcançado por sua magnífica inteligência.
Arrogância meu filho, arrogância. Você pode, pois é meu filho; só ouça os meus conselhos, os demais são balelas, caso não reafirmem o que você pensa. Nisso vale mentiras e omissões. Ambas são aceitáveis para nossa condição de suprapoderosos e invencionistas das armas que cercam a vida humana e material. Temos a grana e as palavras a nosso favor, posso comprar sua liberdade e você terá a minha verdade batizada pelo sangue alheio.
O pai, para sair da situação vexatória, prisioneiro de seu descuido tem o lampejo divino da Deusa das ideias. Criar um par de asas, uma para si e outra para o filho. Embrenhou-se no projeto por nove meses aproximadamente.
O filho nada fazia, pois deveria ser poupado além de ser ainda aprendiz das técnicas que o pai tanto utilizava. Havia certa vaidade em mostrar a Ícaro-Tór como deveria fazer, mas sem deixá-lo tocar. Sua vaidade ainda não permitia essa situação.
Talvez esse tenha sido o seu maior erro: tentar fazer tudo sozinho poupando o filho do que seria um dia sua realidade, visto que seus ensinamentos eram sempre pautados nas ideologias do domínio. Afinal, só domina quem diminui.
Ao findar do tempo proposto, as asas prontas alçavam voos por si só tais como pipas prontas para bailarem no céu. Por isso, bem presas estavam pelas amarras. Eles as colocariam e em questão de segundos estariam distantes da ilha Arrogância que os fixavam àquele solo horrendo.
Mal sabiam que a arrogância não é um lugar externo, ela se fixa e muito bem é na alma e as suas já tinham a semente muito bem plantada. Alçaram voo lá pelo meio dia, a hora sem sombra. O pai aconselhava o filho a não ir até as nuvens altas e nem a se aproximar da água.
Mas Ícaro tinha a mesma arrogância do pai embora sem os devidos cuidados aos quais Dédalo sempre o poupava por precaução. O menino pensava pilotar asas Ferrari e no seu pensamento as pilotava muito bem apesar dos 51 itens da cartilha não terem sido decorados devidamente.
Cada vez mais veloz, ele não se importava com o que eventualmente poderia acontecer, afinal papai poderia construir novos pares e jamais o deixaria em apuros.
Dito e feito. Quando a cera que envolvia as penas começaram a derreter e por ilusão não sabia mais o que fazer com a suposta Ferrari ele se viu caindo, caindo e caindo rapidamente.
O pai o viu em desespero e já previa os fatais acontecimentos caso não fizesse algo. Direcionando a queda com o auxílio de um controle remoto já preparado para eventuais descasos de Ícaro o pai dispensava a cera-extra e o direcionava a um local de pouso seguro.
Errou apenas por alguns cálculos. Não era bom em matemática nesse sentido de pouso. O que fez com que Ícaro caísse sobre uma pobre bicicleta conduzida por um mero serviçal. Mediante o forte impacto, o pobre homem que se dirigia para casa após um cansativo dia de labuta agoniza no acostamento enquanto Ícaro, são e salvo, tem sua morte retardada pelo airbag humano que o aliviou da forte queda.
Ah, Ícaro, Ícaro... Papai já não tinha dito que não podia ir tão alto... Menino desobediente, a sorte é que papai precavido fez esse controle para proteger a criança mal criada desses infortúnios indesejados.
Prestando socorro, mas com a ajuda dos melhores advogados para inocentá-lo da desobediência às ordens do pai e acobertar a falta de estudos dos 51 itens não estudados e devidamente decorados, voltam para o voo que os conduziriam a uma nova ilha de arrogância. Só que agora, eles seriam os donos e não mais prisioneiros. Essa era a diferença.
Andreia Cunha
Analogia brilhante que torna ainda mais vegonhosa, essa pantomima macabra da nossa pobre e corrompida realidade.
ResponderExcluirVários beijos com muitos sabores.