Será que em algum momento fui livre, quero dizer, gozei da liberdade plena sem me ater a conceitos morais ou até mesmo a objetos que implicam dar uma suposta liberdade a quem o manuseia?
Nunca havia pensado no assunto com porfundidade até notar que ao ler um artigo, não concordava em nada com as opiniões do autor. O tal texto discorria sobre postura e elegância e se embrenhava por tiros, arcos e flechas. Algo completamente sem sentido naquele momento em que a elegância ficou longe do que se propunha o título da crônica.
Li o artigo até o final e mesmo assim dialogando e contradizendo as palavras que ali estavam escritas. Não, não fui obrigada a lê-lo até o fim. Não seria avaliada por minha leitura e nem passaria por alguma chamada oral a respeito.
Apesar da discordância, li-o porque quis. Diria ser um ato pleno de liberdade. Mas caso virasse a página e ignorasse também estaria exercendo minha liberdade e igualmente intolerância para com o escrito? Óbvio seria que estaria deixando as palavras escravas somente do papel a que elas foram publicadas.
Essa é apenas uma tentativa de expor o que no interior se passa nas diversas discussões mentais que alimentamos no cotidiano. Afinal, a mente não para mesmo que queiramos por um instante não pensar em nada. Impossível. A mente não descola como muitos gostariam.
E onde reside a liberdade nisso? Não conseguimos nos desvencilhar desse eu ajustado sob medida a nós que o carregamos seja em qual lugar formos. Mesmo num simples ato de parar e olhar a tv ligada num programa qualquer, o pensamento nos acompanha. E mais, são nos silêncios que menos temos liberdade ainda.
A inserção na sociedade já compete o viver com normas e preceitos: conter raivas, angústias e esboçar sorrisos em determinadas ocasiões, etc.
No entanto, mesmo evidenciando raivas, medos e ressentimentos não somos livres, ao final da fúria do vulcão em erupção nada nos garante a pacificação desse ser que nos habita. A todo o momento somos vigiados por esse controle remoto que mais parece um termômetro nos mostrando o ridículo de algumas atitudes que tomamos, ou deixamos de fazer.
Um tremor de mãos em público, um gaguejar de fala, um olhar diferente, um pensamento indiscreto em voz alta. Mesmo com o autocontrole bem ajustado nada nos garante que não haverá uma falha no percurso.
Onde então reside a liberdade, pergunto novamente a mim mesma que insiste em pensar na liberdade como um tocar no céu entre nuvens na qual a águia passa muito acima delas?
A liberdade é uma utopia para dignificar as ideias e as exposições delas sempre atreladas a outras que já foram tecidas anteriormente e/ou esquecidas pelos caminhos da vida.
Nada em como agimos é novidade do que já não tenha sido dito ou expresso em suas diversas manifestações.
Pensamos na liberdade como pensamos na elegância de atos predeterminados em momentos que exigem de nós a máxima gentileza, reputação ou algo semelhante.
Nossa essência é a de animais, somos enfim domados e domesticados conforme o tempo a qual estamos inseridos e as regras que enfim determinam para o jogo.
Ser livre é estar livre. Estar livre deste corpo matéria, é saber que a liberdade plena aqui nunca será plena emquanto dessa casca estivermos revestidos como evolução e aprendizagem maior.
Andreia Cunha
Amada Andréia,
ResponderExcluirA vida nos surpreende com fases sombrias que se apresentam sem aviso, conheço bem esses revezes.
Dizem que as tragédias são capazes de nos endurecer, no meu caso elas promoveram um resultado diferente, eu apenas amadureci e passei a desenvolver uma extrema sensibilidade e comoção pelos problemas das pessoas próximas, e principalmente por quem eu sinto um imenso sentimento de afinidade e carinho, assim como você.
Eu perdi dois irmãos arrebatados por morte prematura e violenta, minha mãe faleceu em 4 de julho de 2000, ao ver o único irmão que ainda está vivo, tentar o suicídio a facadas, fui acometido por um problema de saúde que me deixou tetraplégico por dois anos e meio, além de todas as outras dificuldades ligadas a subsistência.
Estou ciente de que uma dor de dente que acontece conosco é muito mais relevante que um avc no próximo, mas ainda assim achei oportuno fazer esse pequeno retrospecto, para que me conheça melhor e para que essa narrativa de acontecimentos desastrosos, de alguma forma sejam um lenitivo para a fase que infelizmente está atravessando.
Se nossa relação não se resumisse ao mundo virtual, certamente eu encontraria outras formas de auxilia-la neste momento difícil, entretanto por aqui, acredito que esse é um dos poucos meios de me fazer presente e solidário.
Andréia, o que nos faz amar alguém não segue um único caminho, porém é certo que a admiração é um ítem indispensável, e com certeza você a despertou em mim, através de todos os gestos de sensibilidade, preocupação com causas nobres, cultura, beleza e inteligência.
Conte comigo, sinta o meu carinho, a emanação das minhas melhores energias, e o meu imenso sentimento de amor, e saiba que eu penso em você a todo instante desejando que suas lágrimas sequem e que o seu coração volte a pulsar pleno e feliz.
Um grande abraço com a duração do meu carinho, e um beijo com a intensidade do meu amor.
A liberdade não existe porque foi sufocada entre as paredes de regras criadas, por aqueles que sempre foram incapazes de colocar em prática seus verdadeiros desejos.
ResponderExcluir