O suor escorria de meu rosto ansioso por estar ali na frente do campo de batalha. Meus olhos refletiam o meu oponente e os dele a mim: um par de olhos verdes que só foram vistos por conta do levantar da máscara de proteção e o abaixar do escudo.
Éramos uma massa humana em direções opostas. Sabia que aquilo não era um bom sinal. Atrás uma companheira cochichou em meus ouvidos. Se segura que na hora certa te puxo pela cintura e nós saímos. Um ar pesado nos confrontava e o cheiro de gás lacrimogênio não nos deixava ver claramente a profundidade do que poderia vir pelo ardor que causava nos olhos.
Nós, massa que reivindicava, éramos todo ariete numa dança de vai e vem que ganhava força pela quantidade que se movia. O começar lento não representava calma e nem um mero balanço de cadeira de descanso. Parecíamos um imenso tronco querendo quebrar os muros da cidade medieval que se apresentava pela tropa de choque em riste para avançar e pisar em todos como grama ou capacho.
Madeira em madeira, pés duramente calçados em grama escorregadia. Logo em seguida, fui puxada e aí a confusão disseminou suas garras como feroz animal solto de sua jaula-proteção.
Bombas, pedras, chutes e cacetetes. As avenidas em redor pareciam a floresta só que em pedra pronta para esconder os fugitivos e igualmente os corajosos em novas táticas de guerrilha bem como os desavisados do momento.
Um fumacê em meio a pernas. Nessa altura do campeonato não mais vi Glaucia que antes cochichara em meus ouvidos. Um homem bem vestido vendo minha desorientação puxou-me pelo braço e adentrou uma rua paralela. Havia um cerco e a tropa sobrevinha firme e imponente para acabar com o estopim.
Não tinha forças, não sei se pelo gás anestesiante ou pela sensação de pesadelo em meio a névoa densa. Voltamos para o que seria a avenida principal. Em desembestada correria, adentramos um shopping onde tantos outros insurgentes reivindicantes tentavam se manter.
Lojas em tremente medo abaixavam suas portas e expulsavam o povaréu que mais parecia insetos em meio ao inseticida.
Procurei me manter calma apesar dos gritos de uma coreana em querer nos expulsar do local. Sem muito raciocínio gritei: " Ei você tem passaporte?" Mediante o silêncio sepulcral declarei: "então nós vamos permanecer". Após essa impulsiva resposta de quem almeja a vida e também a segurança fomos bem tratados e até respeitados em nosso mero direito de lutar por melhores condições.
Naquele dia, nada foi resolvido, porém ficou marcado em minha alma por conta daqueles olhos que transpirantes tanto quanto o corpo desejavam lutar do outro lado em contraposição a ordem de permanecer pela autoridade a quem obedecia ferrenhamente.
Sua condição vacilante não me saiu da mente. Quanto a mim, a certeza era forte. Lutava do lado certo, não havia porque temer ou me envorgonhar pela última atitude em manter minha vida resguardada mais que pela batalha vencida pelas horas que passadas já não eram mais presentes.
Andreia Cunha
Para tudo é preciso ter dom, até para a bárbarie, sem ele não existe combate e sim uma eterna retirada.
ResponderExcluirBeijo.