Sonhos são enigmas usados pela morte
para entendermos a vida e levá-la adiante
até o encontro derradeiro com o futuro mais certo
a qual, portanto, não podemos negar.
Andreia Cunha
Escrever um sonho é descaracterizá-lo em vida. Nunca se consegue ser fiel à idéia principal expressa no inconsciente.
O que se desdobra, são os nós de nós mesmos emaranhados nos tecidos e veias que nos compõe. E ao tentar colocá-los no papel para depois significá-los é deformar a fonte com toda a beleza de sua origem.
A magia está no fato de que nossa presença em sonho é simultaneamente narrador, personagem, tempo bem como o enrosco do enredo e tudo isso, ao ser recontado pela escrita só colabora para distorcer o real imaginário do sonho.
Certa vez, tive um sonho na qual a janela se afigurava como um orifício repleto de meus medos. Não me aproximava dela e ainda via um tigre se lançar dela andares e andares abaixo.
Acordava empapada em suor e tremendo. O mistério se prefigurava no transpor a barreira com medo de estatelar-me lá embaixo. Libertar-me do símbolo custou o entendimento do que janelas representavam naquela época para mim.
Deixei de sonhá-las quando as compreendi. Libertaram-me ou eu as libertei. Até hoje não sei quem realmente libertou quem. Visto que somos todos os símbolos em nosso próprio sonho. O mais propício seria dizer que eu me libertei ao compreender o objeto janela na vida consciente que levava no momento.
Entretanto, não deixei de ser janela, tigre e o desdobramento de todas estas imagens no contexto do sono.
Hoje, sonho multidão. Sou nenhum quando os vejo se aproximarem em marcha assustadoramente ritmada e em seguida todos quando me sinto familiarizada entre eles. Onde está meu eu? Na confusão que mais parece um protesto me diluo como massa em água.
Torno-me pasta pastosa num aglomerado sem fim. Sumo e só volto a ser no acordar como num cair e bater o corpo no próprio corpo deitado na cama.
Penso que quando dormimos, somos puro teatro acontecendo num eterno desdobramento de personagens e nos demais elementos da narrativa. Não me sei, não me sou, mas somos muitos num só palco.
Palco, este, montado de fumaça e ilusão composto de imaginação e desejo da morte momentânea mascarada pelo descansar do corpo provisório.
IMPROVISO DE VIDA.
Andreia Cunha
Querida Andréia,
ResponderExcluirPassei para desejar um fim de semana especial!
Quero que se farte de amor e alegria!
Beijo com muito carinho!