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sábado, 1 de outubro de 2011

O IMPORTANTE É: VIVER OU SABER SE ESTÁ VIVENDO?



O próprio viver é morrer,
porque não temos um dia a mais
na nossa vida que não tenhamos,
nisso, um dia a menos nela.
Fernando Pessoa

As carnes tremiam com os nervos alterados numa pulsação de ritmo acelerado. Dormir estava ficando impossível, pois o corpo judiado pela cabeça ativa em demasia não dava uma trégua. Os remédios para dormir eram paliativos e já não mais faziam os efeitos desejados.

Seu maior medo era o de estar se tornando um zumbi em vida. Já tinha lido sobre essas criaturas e não gostaria de terminar seus dias anestesiada como tal. Por mais que fosse dolorido todo o processo de vida dentro de si por conta do “ecossistema celular” acelerado não queria que tudo se revertesse com tarjas pretas e vermelhas.

Aliás, vermelho lembrava-lhe um sonho da noite anterior. Via-se esvaindo em sangue menstrual como hemorragia no banho. Até no suposto descanso, vivia fases aflitivas demonstrando-lhe que algo deveria ser contido. Mas o quê? O que estava desencadeando todo esse heavy metal interior. Parecia que por dentro figuras de rockeiros alucinados balançavam as cabeças aumentando ainda mais todo aquele mal-estar.  

Será que algo precisava ser contido? Usava o verbo certo? A vida estava se esvaindo no banho. Água, sangue... Símbolos que não estava conseguindo decifrar transferindo-os para seu momento de vida atual. Conjecturava agora a possibilidade de algo necessitar mudança e não contenção. O rock denso continuava em seu corpo cansado e agonizante. Ao acordar teve mesmo a sensação de que naquele momento estava morrendo um pouco mais. Parecia que algo tinha realmente se desdobrado e saído de si para não mais voltar: seria um tanto de vida, do sangue intenso e vivo visto no sonho descendo ralo abaixo?

Já tivera outras vezes essa sensação de morte lenta, porém acordada e vendo uma cena comum que a tocou. Algo tão natural quanto um casal caminhando pela rua. Diria que era como um insight a sensação de sentir a proximidade com a morte. Mas assim sonhando e prolongando o sentimento do estar dormindo para o acordando era a primeira vez.

Algo precisava ser feito e compreendido. Isso era um fato. Tudo aquilo nada mais era que um grito de socorro dela com ela mesma num anseio crucial de busca de entendimento interno para se refletir no externo em ações menos doloridas e também dolorosas.

Sabiamente disse Clarice Lispector: O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?

Andreia Cunha










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