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sábado, 9 de julho de 2011

A DESERTIFICAÇÃO DO SABER




Na selva, há tempos, estava se levantando um burburinho lento, porém inquietante a respeito da velha instituição do saber que até então quieta e pacífica, desempenhava seu ilustre papel. O primeiro acontecera quando em meio a lutas e sangue, os leões deixaram de ser o topo reinante daquela sociedade. Pasmem, pois foram os urubus que conseguiram destronar a realeza bonachona de séculos.

E agora detentores do poder, os tais queriam modificar o que seria um dos pilares da formação 'animalística' da selva. À força, a neo-realeza impôs mudanças que levaram, enfim,  a toda situação de mal-estar entre os mestres. Um deles, o beija-flor, doutor nas áreas artísticas e até arteiras, estava terminantemente proibido de dar suas aulas 'fúteis'... Não era para ensinar águias a voarem, portanto, o mestre-águia deveria dar aulas idênticas às recebidas pelos galináceos. "Voar? Nem pensar" esse era o lema.

D. coruja estava tão cansada pois fora a primeira a sofrer tantos ataques que se fingia de morta mesmo com os olhos abertos fixos no nada. Permanecia como que no hino  nacional da selva "deitada eternamente em berço esplêndido" apesar da pouca remuneração e valorização. Suas aulas, antes cheias de conhecimentos místicos, agora eram secundárias, terciárias, se é que se pode dizer assim.
Os demais pássaros-professores estavam tão desgastados que a vontade geral era a de abandono.

As crionças-aprendizes, aos poucos se tornaram arredias, pois a vida na selva, antes repleta de valores, atualmente era um verdadeiro inferno sem limites. Cada um por si e se houvesse um deus da espécie deles, este não queria conversa. De modo que o desespero foi se tornando insustentável e aquele ambiente quase sagrado estava mais próximo do monturo a qual a própria selva vivia fora de suas portas.

Nada se podia fazer, pois tanto o canto quanto o pios dos pássaros eram inaudíveis para a realeza em altitudes de onde provinham as leis de forma vertical juntamente com os dejetos fecais dos atuais mandatários. Estes só baixavam para comer os restos mortais em épocas esporádicas em troca de votos.

Na terrível falta de estrutura, ainda assim quem levava a culpa eram os pássaros-professores, pois estes não sabiam lidar com a nova clientela nem estimulá-los com lousa, giz e apagador... Eram incompetentes para ensinarem com os amplos recursos da qual dispunham.

Cada reunião, na qual os urubus sobrevoavam o lugar em círculos, eram ofensas com direito a serem engolidos vivos pelos urubus algozes. Não havia o direito de resposta só o de ouvir em silêncio, portanto, muitos estavam sucumbindo a exaustão extrema e isso era computado e lhes negava o direito a água de bonificação. A sede era tamanha: cultural e material. A sequidão era desértica - da maneira planejada pelos urubus. Seus filhotes já estavam cientes  dos conhecimentos específicos para num futuro próximo poderem desfrutar do que para eles seria um paraíso - a terra da carniça.

E como termina essa história? Você pode me perguntar quantas vezes quiser, mas nem mesmo eu, como narrador a sei. Ela continua acontecendo aos olhos de quem se dipõe a ver.
O que resta? Talvez assistirmos aos próximos capítulos...

Andreia Cunha










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