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sexta-feira, 15 de julho de 2011

DE SUGESTÃO A DIGESTÃO



De sugestão a digestão

Sugerir é como degustar aos poucos e ainda assim não definir o sabor daquilo que foi saboreado. A princípio, uma manga pode até conter algo do sabor de todas as mangas. Há o primordial, mas a essência de cada uma é que traz a vontade de degustar outra ou não. O primeiro sabor é o que praticamente determina o gostar. Aí está um tanto do nosso erro, pois saborear é tentar alcançar o que nunca será enfim alcançado enquanto definição. Um prato seja este popular ou requintado pode ter um nome específico, mas a mão que o prepara pode estar mais leve ou mais pesada conforme o dia e seu sabor por conseqüência disso ser modificado. 


Sugerir é, pois um meio de não definir, de não enquadrar ou determinar padrões. É dar a liberdade para o outro emitir seu parecer. Tenho medo das definições, pois elas aprisionam, engessam e na vida nada é tão rígido que não possa ser mudado.

Nós mesmos somos passíveis de tantas mudanças no decorrer dos anos que podem até nos julgarem como inconstantes e afins, mas quem dentre todos pode atirar a pedra sem necessariamente ter cometido uma mudancinha sequer. Quem não muda perece, está fadado ao isolamento, pois o convívio e as influências nos moldam e irreversivelmente nos mudam. Somos hoje o fruto dessas constantes mudanças que se sucedem dia após dia.

Como digerimos essas mudanças e como sentimos seus sabores é o que de fato colabora para como determinamos nosso rumo, nossas conquistas e fracassos (a qual todos estamos sujeitos – apesar de ninguém comentar sobre isso, porque não fomos ensinados para lidar com frustrações).

Definimos muito e digerimos muito mal tudo o que procuramos encaixotar em esquemas preestabelecidos. O bolo que acaba chegando ao estômago nos estufa, nos impede de pensarmos e até de seguirmos adiante por conta da azia mental. Com esses conceitos tendemos a julgar mais os outros e nos deixarmos para trás como se nisso justificássemos nossas atitudes como as mais corretas, as ideais, as que deveriam ser seguidas. 


Nossa digestão nos paralisa como determinadas cobras que ficam meses inertes até que tudo possa enfim se assentar.

Esquecemos que a vida é um piscar de olhos e quando terminamos a digestão já é hora de partir, e para a maioria vem um arroto de arrependimento por não ter feito diferente ou agido de outra forma.

Que possamos sugerir a nós mesmos primeiramente olharmos mais para nós enquanto seres humanos e tentarmos definir menos sem a arrogância do determinar algo que ainda estamos engatinhando na aprendizagem que é a própria vida.

Degustemos sabiamente para que nossa digestão possa ser leve a ponto de nunca precisarmos parar para ficar regurgitando o que deveria ser só por alguns poucos minutos.

Termino com Stéphane Mallarmé que sabiamente disse:
Definir é matar, sugerir é criar

ANDREIA CUNHA









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