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domingo, 20 de janeiro de 2013

SUSPIRO




Abriu com dificuldade os olhos. Tentava conectar a ideia do acordar com o que de fato acontecia.

Parecia anestesiado, em redor um quarto aconchegante se desfazia à medida que punha os pés no chão. O cenário se desmontava, era uma cama no meio do nada e móveis que não encostavam nem tocavam as paredes. Seguiu e atravessou uma porta que imensa o transformava em pequeno perante sua total compreensão do que acontecia. Acordara ou morrera?

Não sabia estar, pois não sabia o tempo e nem local em que permanecia ali parado. Ousou mais passos. Encontrou na grande sala em meio a tantas outras um olhar irmão. Um abraço sem palavras, enquanto de fora se ouvia o som da chuva em contraste com a claridade ensolarada do dia.

Eu morri? Foram as primeiras palavras. Não, ainda. Ainda,não. Quero que ouça... Estou ensinando ela a tocar sua música predileta para que quando eu não mais estiver, você possa ouvi-la mesmo em minha ausência.

Um choro inevitável foi sufocado. O abraço os tomou enquanto a dor os unia no breve momento que em pouco se acabaria. Uma luz de fim de tarde os iluminava e a chuva diminuía o ritmo.

O retorno ao quarto foi difícil. Em meio a tantos orifícios algo que o conectava se perdia no labirinto à volta que não era ainda a saída. Em meio ao desalento uma voz fria o surpreendeu. Nada podia, por isso a frieza das últimas horas no inútil conselho de um vá descansar que é melhor.

Mas eu acabei de levantar! Mediante a ordem uma revolta pela sensação de incompetência do outro em achar-lhe uma solução. Tudo vagueou no eco. No eco de sua memória que agora mais do que nunca se lembrava de que não teria mais tempo de fazer o que tanto queria fazer. Sua noção de importante mudara. Encontrou sozinho o caminho.

Mas o que de fato queria fazer? Voltou-se às memórias. Os brinquedos ali no quarto agora remontado, sua infância toda envolta na névoa eram mais que companhias. Eram o apego ao fio que ainda era por fim tecido... As histórias lidas, o colo aconchegante da avó e a insegurança por relembrar-se do avô. Será que o encontro lá?

Não havia uma resposta concreta, calou a mente como quem cala uma criança falando o que não deve. Qual era mesmo sua música preferida? Em meio aos últimos tormentos esquecera-se desde o mínimo ato de gostar. A dor o fazia diferente. Via, sentia, imaginava e sabia-se ilusoriamente diferente.

O fato de saber que a hora se aproxima nos faz e também desfaz nas muitas expectativas. Sentia-se aos poucos sombra tanto quanto a lembrança da primeira namorada e as juras trocadas para um futuro longo. Tinha apenas 21, queria filhos, tinha sonhos, queria até mesmo envelhecer. Por quê? Pra quê?

Lembrou-se da visita dos parentes e da manta deixada. Sentia frio por isso o colocou. ‘Mas não está frio!’

- Você veio!

Ele em meio a dor e ainda assim sorrindo.

-E por que não haveria... Trouxe o seu doce predileto...

Um silêncio quebrado apenas pela mastigação.

Era enfim, este o abraço que esperava era a esperança que o guiaria com a tranquilidade que precisava.

O amor.

Partiu feliz como quem casa apesar de toda a angústia que o momento pedia. Suspirou nos braços da amada.

andreiACunha







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