Eram coisas e eram muitas. Habitavam uma profundeza imensa
submersa numa caverna, mas que não sabiam exatamente onde era. Desconheciam-se.
Ainda não se sabiam existir porque o pensamento era todo grunhido e gemidos
confundidos pela falta de distinção. Sobreviviam porque tinham vaga noção de
que quando a fome vinha tinham que saciá-la pela boca, tinham sede e sabiam por
instinto que se bebessem do líquido que brotava das pedras poderiam não mais
senti-la.
Óbvio, tudo era momentâneo e sempre voltava de tempos em
tempos. E isso os incomodava. Não sabiam ‘o como pensar’: por que tudo volta ao
ponto inicial: todo dia fome, sede e etc? Mas de alguma maneira sentiam que
algo precisava ser compreendido lá do jeito deles.
Aquele estranho lugar exalava cheiro de pedra úmida e corpos
suados e apenas uma fresta deixava um tanto do dia penetrar o que por si já era
certo incômodo. Saiam somente à noite para se defrontar com o universo externo.
No entanto era lá que se sentiam bem embora perdidos e felizes, misto de
sensações ainda bem incômodas.
Reparavam que os bebês se descobriam com mãos pés pelo jeito
que proporcionam se tocar assim como as crianças maiores olhavam aquele todo
como intensa novidade o que não vislumbravam pelo viver ordinário do interior cavernoso.
O que de fato desconheciam era que suas essências estava na busca de conhecimento e não do comodismo.
Desde pequenos, os coisas deveriam entender que sua essência era vaga e que
tudo o que sobrevinha como pensamento embora sem palavras os conduziriam a um
mundo aprimorado.
Ainda não sabiam o caminho que indicava o pensar como busca
do impossível e também da verdade de suas meras existências. Que o pensar era
uma trama de irremediáveis possibilidades de melhor se posicionar no mundo bem
como um caminho árduo nas trilhas do perder e se encontrar, do saber e do
duvidar, da dor do entender e do chão ondular.
A maioria deles eram em seus corpos o lugar em que habitava
o desconhecido sempre atuando pela preguiça do permanecer como meio de não
mudar. No entanto, isso não significava falta de ambição de alguns na qual a
dúvida muito mais arteira que a preguiça em permanência ousava se levantar.
Os coisas mais ousados apesar de muitas dúvidas a respeito
de mundo e de si próprios foram os que primeiramente se rebelaram. Fato é que
os coisas continuam coisas porque ainda se recusam tanto a se rebaixar a
condição de humildade perante a natureza, apesar de constituírem muitas
mudanças do que era no princípio e por fim, porque a tal da vaidade os dominou
a ponto de permanecerem na superficialidade do poder perdendo-se da busca
primordial: o que nos faz coisas deixarmos de sermos coisas?
andreiACunha
Nenhum comentário:
Postar um comentário