Um ato pode ser apenas um ato. O que realmente quero dizer
com isso? Não sei, apenas me veio a mente como uma fuga do que em mente tenho
para escrever. Talvez até mesmo se encaixe no contexto, mas por enquanto
confesso essa momentânea inabilidade em começar esse conto.
Fica esse parágrafo como desconto de tudo o que em breve
direi. E prefiro mesmo que os dedos controlem as ideias que emaranhadas tentam
tecer esse estranho tecido que enfim sairá.
Chuvoso estava chuvoso também fiquei. Amuado num canto da
cama enviesado, esparramado para ocupar o espaço que tinha deixei-me todo fluir
como o líquido que lavava enfim o dia e como pedra que a recebe sem ter
condições de se abrigar. Sem ânimo.
Meu presente era estar, permanecer, ficar só com o som das
gotas na janela e na tentativa de meu silêncio interior. Adormeci novamente nessa
anestesia de estar imóvel no corpo. No entanto, ouvia mais que meu silêncio
brotando das nuvens que em mim se encolhiam.
Decidi em sonho morrer e aquele seria meu último dia. Dos
pés sentia flutuar-me fora e com as inúteis mãos pousadas no corpo tentava
abaixar as pernas flutuantes. Descolava-me e parecia mesmo tentar decolar num
voo além do pesado corpo ali estirado.
Era vida fora da vida. Uma sutil leveza aliada a um medo
pavoroso de deixar tudo acontecer. Na boca o grito que não saia: volta, volta.
E nada.
Bailei no vácuo. Vi a figura quieta e não me incomodei, se
quisesse voltaria, no entanto a curiosidade me era forte aliada no desejo da
descoberta além da casca ali deixada. Afinal, nada me acontecia a não ser uma
suave sensação de poder tirar os pés do chão como nunca havia feito ou como se
voltasse a fazê-lo depois de longo tempo.
Fora desse tempo, não chovia parecia ter transposto as
nuvens ou elas terem existência apenas ali na presença daquele corpo inerte
semi morto. Minha velocidade era espantosa e minha vista captava sem ruídos
visuais as belas e não tão belas paisagens pelo caminho.
Dei-me conta de uma companhia que me explanava o motivo de
tudo, o mistério do universo que deveria saber naquele momento. Era muita
novidade para um só ser. Era uma festa só o sentir flutuar, que dirá vislumbrar
alguns segredos?
Não os recordei ao voltar. As profundezas do oceano, as
delícias dos céus em camadas eram vividos em segundos como se o pensamento
pudesse transportar o corpo para onde quiséssemos ou precisássemos. Magia
maravilhosa.
Adentramos um templo imenso que parecia ser uma biblioteca,
grandes livros que pareciam de ouro mostravam letras indefinidas, ainda
indecifráveis, mas que a meu ver eram muito significantes. Belas e simbólicas
em seus desenhos.
Vi pessoas mas não tive nenhum contato com elas, apenas as
via e elas me viam.
Retornava sem saber que era minha hora. A hora de deixar os
sonhos e partir para o que ainda era minha realidade. Um renovo se fez. Mais
animado não me fontive em deixar tudo apenas guardado na mente em sonho. Um ato
pode ser realmente apenas um ato... insignificante... mas caso não me deixasse
sair, com certeza não me teria proporcionado essa improvável experiência.
Para uns sonho para mim realidade fora dessa realidade.
Afinal, o que realmente é real?
andreiACunha
Nenhum comentário:
Postar um comentário