' A LINGUAGEM É A MORADA DO SER"
MARTIN HEIDEGGER.
O que é e como tomamos conhecimento do que é um ser?
Oras, tenho por mim, retomando a origem grega da palavra que a presença é a essência básica para se definir bem como tomar conhecimento de um ser.
A existência na presença torna o ser matéria física e sensorial.
Seria, então, a linguagem um ser? Ela existe independente da existência humana? Seria sua presença oral ou escrita a marca de sua permanência, de sua eficácia para demonstrar a verdade ou verossimilhança dos tempos?
O homem fenece porque a carne matéria de sua existência igualmente perece, no entanto, o que ele fez se perpetua, tanto que se hoje estamos aqui é porque de alguma forma a linguagem se perpetuou em suas ações além de seu corpo ou do de muitos antepassados.
O status de permanência da linguagem extrapola o ser em sua presença unitária. Ela em si contém todos os tempos e seus vestígios se propagam além das pedras, tecidos, papéis, caracteres, bits, pixels, bytes ou mudanças afins.
Quem nos garantiria que antes do homem não foi a linguagem que como princípio criador se fez criação efetiva? Na bíblia, por exemplo, o verbo se fez carne.
Seria o mistério a ilogicidade, o assimétrico, o imperfeito, o insolúvel? Seria mesmo a palavra capaz de proferir-se a si mesma antes mesmo de existirmos? O agir já seria uma linguagem? O como as partículas se uniram nas mais diversas possibilidades de criação - seria esse o código linguístico secreto que todas as ciências almejam descobrir?
O indizível pode se prefigurar no zero matemático? E antes dessas ações o tudo era nada?
Caso realmente participemos dessa dança infinita de máscaras não há uma resposta que não conduza a outra pergunta e assim sucessivamente. Seria essa a resposta travestida de fracasso?
Não defendo o comodismo nem o contentamento barato, afinal somos seres de busca constante, cada qual em seu devido ritmo. Talvez por isso não haja século que finde sem ao menos uma descoberta relevante sequer. Porém sempre cercada de mais dúvidas que se proliferam como pequenas espirais que persistem no se mover ad infinitum.
A linguagem não é só a da boca, a dos gestos, a da mímica, a dos sinais, a do silêncio é a da arte lúdica de se reproduzir além de um além dos muitos que hoje somos e das células e tantos microsseres que nos habitam.
É o externo, é o interno, é a nuvem, é a formiga, é a gota da chuva, o cimento, o barro, a madeira, a fera, o sublime, o ronco, a louça, o tecido, a flor, o fio, o pêlo, a pedra, a mosca, o botão...
Enfim a descoberta do eterno encoberto do que virá a ser o ser no ser.
A resistência da existência...
andreiACunha
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