Um imenso coro se apresentava na praça central da cidade naquele dia. Era um domingo, mas não cerimonioso. Apenas domingo no seu jeito de ser a moda antiga: lojas fechadas e nenhum tipo de comércio aberto tal como mercado ou mercearia.
Crianças, adolescentes e adultos ali cantavam muitos louvores que agradeciam de alguma forma o início de mais uma semana. As pessoas que por ali passavam por ser hora agradável e após o descanso do almoço se reuniam ao redor do som.
No entanto, algo seria quebrado tal como pacto selado com sangue e beijo. Uma encenação teria vez assim que o som cessasse o seu número. Tudo eram novidades e expectativas. Uma trombeta soou e o silêncio se fez presente tanto quanto a quantidade de pessoas ali reunidas.
O Senhor Silêncio chegou e um homem adentra o palco sendo açoitado por todos os lados. Apesar de ser uma encenação nada diria que o ser que ali estava não sentia a profundidade daquelas dores representadas.
Seu nome era Judas Iscariotes que pouco antes numa ceia reunida havia dito o que de fato aconteceria. Ninguém acreditava na história às avessas e achava tudo aquilo uma profunda heresia apesar de não ser a páscoa em si.
Aquilo mais parecia um carnaval medieval na qual em breve uma fogueira seria acesa e os patos da vez - a serem servidos como pratos à população após as fogueiras serem acesas para assar em brasa viva o churrasco humano em carnificina - fariam o verdadeiro espetáculo acontecer.
A multidão gritava até que um atirou um ovo doce e escuro no palco agora com uma forca posta para que Jesus arrependido se enforcasse como ditava a história proposta pelo autor herético.
Muitos revoltados começaram a arremessar os mesmos ovos que em mãos tinham e ainda incentivavam os filhos a fazerem com gosto. O teatro não parou. O espetáculo nunca pode parar mediante o desgosto da plateia. O lema é a de que o show sempre, sempre deve continuar. E era assim que os atores se comportavam mediante a obediência dos ensaios.
Até que uma senhora muito humilde sai da plateia e se põe a gritar juntamente com os atores ainda persistentes em seus atos. Era Dona Hipocrisia que tentava mostrar a todos o quanto tudo aquilo poderia ser verdade pelos espelhos propostos pela arte da encenação.
Aos poucos, as mãos foram baixando e se acalmando com a voz firme e forte que se pronunciava altiva apesar dos ares humildes.
O que ninguém podia supor era que perante tantas verdades sendo expostas assim a olho nu causaria tanto horror no Jesus ‘encenativo’. Mediante tanta confusão ninguém percebeu que suas ações mais que meras cenas representavam a realidade tão crua e dura quanto à vida pode proporcionar.
Antes mesmo da sonhada conciliação, ali jazia Jesus imóvel e aplaudido para a grande multidão pensando se tratar de um espetáculo pleno de veracidades e verossimilhanças.
Andreia Cunha
Seu blog está cada vez melhor, agora além de textos brilhantes, encontro imagens para afanar... rss.
ResponderExcluirBeijos minha linda amada.