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terça-feira, 24 de abril de 2012

A ESPERTEZA DO BURRO




Era uma vez um burro que foi forçado a crer que era só e somente um burro burro.  Desde pequeno, o pai o rejeitara por ter orelhas maiores que as de costume ao que a mãe tentava contornar, mas mesmo assim tinha vergonha de mostrar o filho em público.

Não sabia ele primeiramente o motivo de tanta esquisitice e repugnância com sua aparência até que um dia teve de ir para a escola. Ah, ali verdadeiramente começaram os seus problemas... O lugar que deveria ser de respeito e igualdade era na verdade a mais cruel faceta da sociedade a qual ele já estava por costume se habituando
.
Parece redundante falar em hábitos e costumes, mas era assim mesmo que Asliu, o burrinho rejeitado, começava a aprender a arte de viver e entender o mundo: sob a ótica das desigualdades o que o deixava só, triste e sem amigos. Por mais que desempenhasse bem uma atividade, nunca era realmente notado que dirá elogiado.

As aparências eram as únicas verdades a serem veneradas e assumidas como tal. Por descaso da maioria foi inicialmente nos gibis e depois nos livros que encontrou amigos reais mais que os carnais. Adquiriu muito conhecimento a ponto de causar certo ar de confiança em sua pessoa mesmo com o que os outros consideravam um imenso defeito.

Certo dia pensou:

- Não é nas orelhas que se instala o conhecimento...

Parecia óbvio o seu pensar, até mesmo inútil visto que nada do que pensara era A GRANDE DESCOBERTA . No entanto, para ele bastava aquilo como ponto de partida para sua virada inteligente.

Em absoluto segredo, transformou seu par de orelhas antes abaixadas e reclusas em duas potentes armas culturais. Haveria de ser por algum motivo especial que fora agraciado com elas. Aprendeu malabarismos, truques, mágicas e movimentos inusitados. Depois, dedicou-se a atividades intelectuais tanto na música, na literatura e nas novas técnicas de pintura auricular produzindo belíssimos quadros.

Quando começou a mostrar-se confiante e resistente às investidas dos outros burros, passou a ter o respeito que tanto merecia pelo esforço da transformação da dor em amor. Seus pais já não o viam como um patinho feio. Os antigos colegas de classe faziam questão de dizer seu nome e como eram bons amigos de infância.

Asliu odiava toda aquela hipocrisia e adulação, até que um dia repentinamente não mais andava de quatro como os demais. Passou a ter a postura mais ereta e comportamentos mais racionais o que o tornou um líder nato entre os seus.

Dali por diante já se sabe que uma nova raça surgiu. Sim, mas infelizmente confesso que não eram os humanos...

E essa é uma outra looooooooooonga história...

Andreia Cunha



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