Era uma reunião costumeira, mas que apesar de ser habitual volta
e meia trazia gente com ideias novas. No entanto, desta vez havia visitas
indesejáveis. A pauta do dia abrangia desde novas estratégias para atrair novos
seguidores bem como a reforma de velhas reivindicações.
As discussões seriam abertas com a leitura da pauta e com a
determinação de quem escreveria a ata, seguido por intervalo na qual um lanchinho
apetitoso também seria servido.
Ao passar das horas e já com a presença pontual do líder, os
integrantes foram se assentando para que o início enfim se desse.
As visitas indesejadas continuavam ali sorrateiras, mas
ninguém se atrevia a perguntar quem as havia convidado para a festa. Um ar
solene misturado a constrangimento exalava como perfume de quem havia pisado em
porcarias indevidas pelo salão.
- Talvez represente dinheiro. Pensemos no lado positivo das
coisas!
Uma madame rompeu o silêncio sepulcral com a frase bem no
meio da leitura sagrada. Algo acabaria fora dos padrões.
Tudo fazia crer que alguém seria destituído do grupo pela
audácia de levar aquelas duas para o encontro e talvez fosse a tal madame que
pela frase denunciava sua culpa tão ingenuamente no seu dispensar de pensamento
num modo inconveniente.
O problema é que todos, absolutamente todos sabiam da
necessidade de consultas prévias para trazer convidados, o que não aconteceu
com as novatas. As tais nem se aperceberam do incômodo que estavam causando,
pois julgavam ser assim mesmo a reunião a qual participavam pela primeiríssima
vez.
O líder teria que modificar alguns assuntos, pois fora pego desprevenido
para lidar com tudo aquilo. O pior é que por estarem ali já implicava numa
aceitação visto que conhecedoras poderiam muito bem sair contando os detalhes
secretos.
Teve de agir rápido e criou um ritual a La momento para não
perpetuar ainda mais o mal estar: - Fulana e Ciclana se apresentem a frente.
Hoje tem início o ritual de aceitação de vossas senhorias como membros
principiantes de nossas reuniões, mas para tanto deverão cumprir as seguintes
normas:
- Deixar marcar a língua a ferro e fogo como prova de vossas
sinceridades e lealdade a nossos princípios, e por já estarem aqui dentro não
poderão dizer não. Caso contrário, não deveriam aceitar o que por razões muito
óbvias não lhes convinha saber.
- Manter os olhos vendados a partir de agora como segunda
prova de que adquiriram a paciência necessária para serem dignas de pisarem
nesse solo sagrado.
- Ignorarem todo e qualquer comentário que nos julguem como
quer que queiram...
- E mais: caso descumpram as normas terão seus belos
pescoços a prêmio, mas isso ninguém sabe pois é um clausula que não está
discriminada em nosso contrato assinado com sangue.
Visto que foram corajosas o suficiente para permanecerem:
Começaremos o ritual e quem o fará é a Madame Soutien.
- Mas por que eu, acaso tenho culpa nisso?
- Não tem escolha cada um que traz novos seguidores tem de
arcar com as consequências...
E lá foi Madame Soutien para cumprir o ritual sagrado...
Também quem mandou desobedecer as ordens alheias a ela em
sociedade secreta? Deveria pagar o preço, pois...
Elas estavam lá, e como incomodavam!
Assim foi dito e assim se fez.
Andreia Cunha
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