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domingo, 1 de abril de 2012

IMPÉRIO NUMÉRICO



Trabalhar ali era um sufoco. No início tudo parecia calmo e tranquilo, apesar do salário não ser lá essas coisas. Era ao menos maior do que o anterior.

A coisa só foi mesmo mostrar as caras quando, pra lá de alguns anos, um forte estresse começou a mostrar as garras. Tal como fera indomada, ela se apossou de seu estado de espírito na forma de números a serem atingidos.

As tais metas de produtividade. Ali naquela empresa, tudo deveria ser maior que o anterior. Os índices positivos deveriam ser sempre em escalas geometricamente falando acima do mês anterior e assim sucessivamente.

Esqueceram apenas de avisar o chefe do chefe do chefe até o alto escalão de que a vida não funciona com esse método. Que a vida é feita na base do quoeficiente do imprevisível. Que números têm sim suas representações, mas em se tratando de cotidiano nada é permanente, fixo e muito menos preestabelecido e garantido ao final.

Nisso,residia o princípio de seus embates. A cada dia tinha um número a superar e consequentemente com ele guerrear até um dos dois serem sucumbidos até a exaustão.

Fácil era prever que cabeças rolariam e que estas não seriam numéricas. Poderiam ser contadas, mas números não mentem, são justos e nunca devem, por isso mesmo, serem desobedecidos ou mal tratados. 

Sempre filhinhos de mamãe, crianças mimadas e de beicinho pronto para chorar quando contrariados.

Ele já estava cansado em ser babá deles. Estava trabalhando como gerente e tinha que cuidar dessas crianças mimadas? Tremendo absurdo porque quando um número esperneava era telefonema de todos os lados pressionando-o para que fizesse o tal calar o choro a qualquer custo.

Estava sendo custosa demais essa rotina. Não compensava mais o trabalho porque já não era mais um prazer e nem gratificante com aquele mísero dinheiro que agora mais ia com remédios do que qualquer outra coisa.

Sua vida virara um verdadeiro inferno apesar de nunca ter sido um tranquilo paraíso.
Sua loucura era o que crescia exponencialmente, geometricamente e aritmeticamente.

Estava valendo menos que o peso do número nove que rodaria a máquina marcadora para um novo zero, uma nova unidade, uma nova dezena, uma nova centena e assim por diante. Os números eram pesados demais para carregá-los como crianças gigantes em terra de anões.

Foi sendo sucumbido, sucumbido até que um dia desapareceu pisado e soterrado por um imenso três teimoso que nunca soube onde era realmente o seu lugar.

Nem deram enfim por sua falta...

Andreia Cunha










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