Era uma vez um burro que foi forçado a crer que era só e
somente um burro burro. Desde pequeno, o
pai o rejeitara por ter orelhas maiores que as de costume ao que a mãe tentava
contornar, mas mesmo assim tinha vergonha de mostrar o filho em público.
Não sabia ele primeiramente o motivo de tanta esquisitice e
repugnância com sua aparência até que um dia teve de ir para a escola. Ah, ali
verdadeiramente começaram os seus problemas... O lugar que deveria ser de
respeito e igualdade era na verdade a mais cruel faceta da sociedade a qual ele
já estava por costume se habituando
.
Parece redundante falar em hábitos e costumes, mas era assim
mesmo que Asliu, o burrinho rejeitado, começava a aprender a arte de viver e
entender o mundo: sob a ótica das desigualdades o que o deixava só, triste e
sem amigos. Por mais que desempenhasse bem uma atividade, nunca era realmente
notado que dirá elogiado.
As aparências eram as únicas verdades a serem veneradas e
assumidas como tal. Por descaso da maioria foi inicialmente nos gibis e depois
nos livros que encontrou amigos reais mais que os carnais. Adquiriu muito
conhecimento a ponto de causar certo ar de confiança em sua pessoa mesmo com o
que os outros consideravam um imenso defeito.
Certo dia pensou:
- Não é nas orelhas que se instala o conhecimento...
Parecia óbvio o seu pensar, até mesmo inútil visto que nada
do que pensara era A GRANDE DESCOBERTA . No entanto, para ele bastava aquilo
como ponto de partida para sua virada inteligente.
Em absoluto segredo, transformou seu par de orelhas antes
abaixadas e reclusas em duas potentes armas culturais. Haveria de ser por algum
motivo especial que fora agraciado com elas. Aprendeu malabarismos, truques,
mágicas e movimentos inusitados. Depois, dedicou-se a atividades intelectuais
tanto na música, na literatura e nas novas técnicas de pintura auricular
produzindo belíssimos quadros.
Quando começou a mostrar-se confiante e resistente às
investidas dos outros burros, passou a ter o respeito que tanto merecia pelo
esforço da transformação da dor em amor. Seus pais já não o viam como um
patinho feio. Os antigos colegas de classe faziam questão de dizer seu nome e
como eram bons amigos de infância.
Asliu odiava toda aquela hipocrisia e adulação, até que um
dia repentinamente não mais andava de quatro como os demais. Passou a ter a
postura mais ereta e comportamentos mais racionais o que o tornou um líder nato
entre os seus.
Dali por diante já se sabe que uma nova raça surgiu. Sim,
mas infelizmente confesso que não eram os humanos...
E essa é uma outra looooooooooonga história...
Andreia Cunha