Um olha para o outro e fala:
- Ei cara tu é real?
- Sei lá... Mas que pergunta besta. De onde veio isso?
- Num sei... Tô tão confuso que nem sei.
- Confuso com o quê, cara? Tu já nasceu confuso por
natureza. Se liga que to achando que tu tá é mal... Comeu o quê? Bebeu o quê?
- O pior é que tu tá confirmando minhas expectativas. Às
vezes, acho que to mais vivo no meu celular do que aqui falando com você. Aliás, esse céu meio artificial hoje.
- Tu tá aqui ou eu to desdobrado nesse universo virtual
pensando que é real?
- Ih, ó, o cara pirou na batatinha!!!O céu tá normal, eu to
aqui do meu jeito como sempre fui desde que nasci. Não vem com essa não que
ninguém vai roubar minha sanidade, falô?
- Pelo jeito to sentindo uma carinha de dúvida de sua parte.
O figura olha pros teus braços, olha pras tuas pernas? Tu acha que isso é pele
ou pixel?
- Pô meu, claro que é pele e toda pele tem furinhos,pontinhos:
poros melhor dizendo.
- Aí é que tá, parece tudo muito igual lá e cá. Aqui
acolá...
-Cacete, tem um hospital psiquiátrico logo ali, vou te
deixar lá, hein...
-P...q...p... mui amigo. Aliás: amigo da onça é melhor que
tu, safado. Pensa que vai se livrar assim de mim tão fácil?
-Uai, é só passar lá e deixar o pacote. Te vira, rapa...Não
sou tua consciência, nem grilo falante. Se tu não sabe de ti não sou eu que vou
te dizer.
Ao passarem pela porta do hospital psiquiátrico ambos
entraram, fizeram a ficha e aguardaram calmamente a espera gentil mesmo de quem
tem plano de saúde nesse país tanto virtual quanto real.
Apenas um entrou na sala, aliás o outro entrou enrustido no
bolso. Eram um só; Ele e o avatar, melhor dizendo, o avatar e ele...
Inidentificáveis ambos já estavam em pé-de-guerra para se livrarem um do outro.
Mas sobraria para o médico distinguir quem era o real quem era o imaginário.
Será que aquele hospital estava no plano do real ou do
virtual?
Estabeleceu-se então a confusão geral...
Andreia Cunha
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