Até então não sabia o preço de suas escolhas. Ainda jovem
fazia o que bem entendia: suas trocas um dia lhe trariam o troco de seus atos
impensados.
Fato é que também praticava atos do bem, afinal todos somos
dotados de uma parte boa e outra não tanto assim. Sei estou evitando falar no
oposto claramente, mas prefiro pensar que existe o bem e a ausência dele e não
necessariamente precisamos nomear esse lado tão sombrio que em nós existe.
Penso que reconhecê-lo já é um prêmio.
Voltando a origem do conto: a referida adolescente vivia sob
as capas do agir mais do que simplesmente o pensar e, por isso, metia os pés
pelas mãos com facilidade. Certo dia, acordou disposta a causar raiva em todo
mundo que dela se aproximasse.
Sua raiva apertava em seus dentes de maneira que cada pessoa
era um inimigo em potencial. Toda provável gentileza que porventura seria
iniciada já era desbancada com sua voz irritante e seu mau humor sarcástico.
Por sorte, estava rouca, o que impedia que a ouvissem
claramente. Suas respostas estúpidas afastavam o mais gentil dos seres: seu
cachorro que se mantinha quieto no canto. O pobre já a conhecia e como resposta
evitava ser o alvo da vez.
Arrumou-se e saiu com a macaca à solta louca para aprontar
confusão. E as arrumou: com o vizinho que a cumprimentou, com a moça no ponto
de ônibus, com o rapaz que sentou-se a seu lado, com o motorista e assim por
diante.
Desceu ao som dos berros da multidão alvoroçada gritando ‘ih,
fora, ih, fora...’ Por dentro, ria de tudo aquilo. O dia de muita gente já
estava marcado com sua intragável presença. Havia contaminado muitos com seu abundante
veneno.
Caminhava pelas ruas em movimento indo na direção de um
comércio. Não sem antes gabar-se do feito. De repente, deparou-se com a porta
de um estabelecimento comercial: era um banco famoso. A porta quase lhe levou o
nariz.
À pessoa que se punha em sua frente desferiu-lhe as mais
gentis ofensas como meio de causar mais uma confusão.
Os passantes e os de dentro do banco não se contiveram em
ver tamanha estupidez e pensaram ser algo como uma pegadinha dessas de
televisão. Ela brigava com seu reflexo azul que se punha a imitá-la em todos os
gestos e atitudes.
Quando deu por si, já havia cometido a atrocidade. Cega por
tanta raiva foi a sensação do momento e alvo dos piores risos. Humilhada por
sua própria imagem teve de colocar o rabinho entre as pernas, não sem antes
criar mais uma confusão com toda a
cidade que pareia ter se instalado ali só para ver o show de graça.
É, toda troca seja em palavras ou gestos tem seu troco, e o
dela veio com algumas moedas atiradas em sua direção com valores irrisórios...
Poderia, ao menos, tê-las juntado e aberto uma conta no tal banco que lhe
proporcionou certas e duras verdades. O mais importante era que como adolescente, ainda tinha muito a aprender...
Andreia Cunha
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