Ilusoriamente iludidos se punham a pensar no futuro do filho:
‘ tão dedicado aos estudos’. Mal sabiam que por detrás da capa dos livros aceitos
havia outros proibidos e de conteúdos considerados escusos.
Era pura literatura o que os pais tentavam coibir dos olhos
curiosos do menino que sonhava em ser escritor. No entanto, quando se quer
algo, o que menos adianta é proibição... Nesses casos, a mente vai longe, voa
para burlar as bulas discriminatórias impositivas.
E seu melhor remédio era camuflar os efeitos colaterais
mesmo que tudo fervilhasse grande em sua mente alimentada com o melhor em
palavras plenas e poéticas.
‘Que mudança espetacular’ gabava-se o pai. ‘Quanta sapiência’
respondia a mãe. Será um médico, um advogado, um homem de valor...
O irmão que não era bobo nem nada, só via o circo ser armado
e de camarote se mantinha atento para os próximos capítulos.
‘Coitados, mal sabem que esse não tem nem sombra de futuro.
Vai ser mesmo na melhor das hipóteses um lunático sonhador’.
Dessa maneira, tudo ia sendo tecido.Enquanto houvesse meios
e nada fosse descoberto ficaria nesse emaranhado de fios finos e leves como
teia produzida para pegar o jantar do dia e o almoço da noite.
A mente se alimentava de palavras tenras e frescas de sabor
e o corpo evitava os dissabores da contenda familiar. Tudo era uma questão de
tempo e as palavras seriam produzidas pela produtora do tempo em fios – a parca
carpideira que o ajudaria a chegar em seu intento.
Por enquanto, só armazenar: armazém de sonho e ar.
Andreia Cunha
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