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domingo, 1 de julho de 2012

ARMAZÉM DE AR: O JANTAR DO DIA E O ALMOÇO DA NOITE




Ilusoriamente iludidos se punham a pensar no futuro do filho: ‘ tão dedicado aos estudos’. Mal sabiam que por detrás da capa dos livros aceitos havia outros proibidos e de conteúdos considerados escusos.

Era pura literatura o que os pais tentavam coibir dos olhos curiosos do menino que sonhava em ser escritor. No entanto, quando se quer algo, o que menos adianta é proibição... Nesses casos, a mente vai longe, voa para burlar as bulas discriminatórias impositivas.

E seu melhor remédio era camuflar os efeitos colaterais mesmo que tudo fervilhasse grande em sua mente alimentada com o melhor em palavras plenas e poéticas.

‘Que mudança espetacular’ gabava-se o pai. ‘Quanta sapiência’ respondia a mãe. Será um médico, um advogado, um homem de valor...

O irmão que não era bobo nem nada, só via o circo ser armado e de camarote se mantinha atento para os próximos capítulos.

‘Coitados, mal sabem que esse não tem nem sombra de futuro. Vai ser mesmo na melhor das hipóteses um lunático sonhador’.

Dessa maneira, tudo ia sendo tecido.Enquanto houvesse meios e nada fosse descoberto ficaria nesse emaranhado de fios finos e leves como teia produzida para pegar o jantar do dia e o almoço da noite.

A mente se alimentava de palavras tenras e frescas de sabor e o corpo evitava os dissabores da contenda familiar. Tudo era uma questão de tempo e as palavras seriam produzidas pela produtora do tempo em fios – a parca carpideira que o ajudaria a chegar em seu intento.

Por enquanto, só armazenar: armazém de sonho e ar.

Andreia Cunha






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