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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PRIOR-IDADES



Minha cabeça chacoalhou como a gema dentro do ovo. Foi um segundo apenas, mas este pôde em sua atitude brusca trazer significância ao que estava adormecido em mim como gelo em frigorífico. De repente, aquilo tudo derreteu subitamente a anestesia para o que deveria considerar importante no meu viver.

Foi um acidente num trânsito caótico da hora do rush. Estatelada, lá fui lançada pelo impacto e um tanto sem noção tentava me levantar enquanto a responsável pelo ato fugia em sinal verde para não arranjar problemas.

Eu, apenas queria sair dali, pois via que os carros como animais ferozes e em debandada logo viriam em minha direção. Nessas horas, tudo é visto sob câmera lenta e a continuidade do tempo muda completamente.  Ouvi vozes, mas todos numa pressa, somente queriam a passagem para aproveitar o verde que pela metade logo fecharia novamente.

Sorte estar em velocidade ínfima, sorte não ter sofrido maiores seqüelas mediante a estupidez de quem não usa a seta esperando que o próximo saiba o que pretende fazer sem sinalizar.
Senti-me como um cão sem dono atropelado em plena avenida e ali deixado pela volatilidade das necessidades individuais de cada um. Recostei-me na calçada e depois num muro. Tentei ligar, as mãos tremiam.

Agora sim era humana com nervos sentidos e sentimentos abalados. Nem olhava ao redor, mas sei que ainda havia olhares curiosos para ver o que faria. Deixei-me acalmar. Meu corpo retorcido e o da moto também. Éramos um só ser. Embora meus ossos e maquinários negassem a união pelo bombear de sangue nas veias latentes.

Não havia meios de chorar pelo descaso. Tinha de ser forte e por mim. Milhares de dúvidas e dores. Queria um amigo, um colo. Um abraço bastava para dizer sem palavras o que estava sentindo.

Entre os sonoros buzinaços, minha alma queria do mar a paz para assistir ao pôr do sol em plena celebração da vida e do renascimento que estava marcado naquele lugar. E foi o que fiz. Abdiquei as tarefas, os compromissos inadiáveis. 

Sentei-me num banco e ao lado de uma pessoa amiga deixei-me se pôr daquela angústia com o sol acalmando todas as minhas dores marcadas principalmente pelo descaso dos seres humanos para com outros que se enclausuram na covardia e no medo de estenderem suas mãos a quem precisa num momento complicado.

Enquanto o tempo anunciava a noite, eu amanhecia para o entendimento do meu eu que em vida só queira contemplar a beleza da natureza...

Andreia Cunha












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