Pagava o preço de ser o que era: um rato no meio da multidão. Seu pecado era esse - ter nascido como um ser asqueroso para muitos, ser filhote e estar perdido entre consumidores e consumidos no comércio esfuziante da cidade às vésperas de festas natalinas.
Um grito surgiu e aparentemente era brincadeira para enganar trouxa. "Um rato" entre um risos e gargalhadas. O homem tentava pôr medo numa mulher que provavelmente ele conhecia. Os transeuntes começaram a procurar. Nada!
Demorou para que o bichinho em desembestada correria e assombro surgisse entre carros num trânsito parado de semáforos vermelhos. A investida da multidão, a princípio, era a de sair correndo enquanto mais aterrorizado com aquele bando de seres estranhos, o rato tentava fugir daquilo tudo. Olhos pretos arregalados zanzando de um lado para outro sem a devida noção que um humano tem de como se deve andar numa rua.
Os homens pareciam tão despreparados para enfrentar aquela criatura, que foi necessário uma massa tentando matar o camundongo que, por um átimo, resolveu se esconder na roda de uma moto. Sorrateiro como era, quase ninguém percebeu o esconderijo. Percebi, calei-me, fui cúmplice pois também me assombro com esse mundo de loucos ensandecidos que se consomem no consumismo barato de achar que possuem algo que nunca terão...
Trabalhem, trabalhem e enriqueçam os bolsos das imensas ratazanas humanas, enquanto o corpo é anestesiado e somente os olhos se movem na ânsia do querer ter. Não há tempo para pensar, "tenho que comprar, tenho que fazer, ter é essencial. Fomos feitos para isso. Estou morrendo, mas consumo. Com sumo ralo que não serve para um bom suco. Sumo da vida e para a vida com o anestésico potente da anulação perante o mundo. Sou massa sem forma. Amorfa
- Feliz Natal Ho ho ho!
Andreia Cunha
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