Despertem o despertador! Ouviu-se o som desesperado de alguém que lá do fundo gritava. Ele vai perder a hora!
Parece insana essa frase para os ditos normais. Entretanto para aqueles que insistem em continuar dormindo pensando estar acordado e como máquinas, no piloto automático, o mais provável é que o despertador interior dessas criaturas esteja realmente deitado eternamente em berço esplêndido ao som do mar e a luz do céu profundo.
Eram tantos os pensamentos que figuravam na cabeça do ser gritante, mas ninguém o levava a sério. Achavam-no louco por de vez em quando gritar frases do gênero. Sua essência era andarilha, tanto que foi recolhido da rua em estado periclitante. Para que pudesse permanecer no local e ser tratado de sua doença, tinham que prendê-lo, amarrá-lo à cama para medicá-lo.
Desde que o viu pela primeira vez e apesar de sua posição médica, nunca o achou insano. Havia nele apesar de toda a aparência exótica, um ar de sabedoria incompreendida e que deveria ser considerada.
Mas como era novato entre tantos médicos experientes manteve sua pobre interpretação calada dentro de si. A voz da sua interpretação poderia muito bem ser o louco que jazia em seu ser querendo ser desperta do sono de anos afins.
Certa vez, dormindo na clínica, foi despertado por algo que não sabia o que era. Assustado, observou ao redor e tudo no mais profundo silêncio. Não havia nada que o pudesse ter tirado de tanta calmaria.
Voltando a dormir, sonhou um corvo que em sua cabeça pousava e lhe comia os miolos como minhocas mentais. Estava sendo liberto! Era a sensação que tinha mesmo estando nos braços de Morfeu pela segunda vez naquela noite.
Amanheceu novo e desperto. Um completo mistério era ele em sua nova condição de acordado. Hoje, está junto de seu amigo na qual compartilham o mesmo e pequeno quarto.
E o som de um despertador soou naquele lugar como nunca antes se havia ouvido.
Andreia Cunha
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