Só ouvi-se a derrapagem. Era um fusca esportivo meio avariado tentando ultrapassar uma moto que indicava seta de virada à esquerda.
O trânsito parecia um rallie pronto para a competição desigual de veículos na pista. Cada semáforo vermelho era a indicação de uma nova partida.
Aceleradores roncantes a medida que o bonequinho piscava entre verde e verrmelho. Tudo isso criava um clima tenso e sufocante de meio de tarde de verão. Não, não era o rush. O ar faltava e o sol queimava os miolos de quem quer que fosse: piloto, mostorista ou mero pedestre.
Mas nada, nada mesmo justificava aquela correria e desejo de mostrar poder em alta velocidade.
No fatídico momento da derrapada do fusca, seus pensamentos vinham contidos na família e nos filhotes que teria de doar por conta de uma súbita doença que lhe afetara os pulmões.
Antes, uma moto em alucinada aceleração, descabida para uma rua tranquila já denunciava a impaciência de esperar qualquer virada que não fosse a reta que ele tinha se determinado seguir.
O fusca na desembalada sensação também não poderia ficar atrás. Tinha que mostrar os cavalos - potentes pangarés que o mantinham rodando. Foi aí que: só se ouviu a derrapagem em erres agudos gritantes de pneus em máxima freagem.
Num susto, a moto certa, por sua seta ligada, viu-se já no chão estatelada e seus pensamentos interrompidos por aquela competição da qual nem se sabia participante.
Ufa, enfim a derrapada não atingiu a moto que virou bem esgueirada a calçada para não ser atingida pela biga romana enlouquecida com seus rocinantes em bufaria.
O susto custou-lhe um preço: pernas bambas e tonturas ao parar já no estacionamento de seu prédio. – um surto de pânico semelhante ao do ser que se vê mediante a morte plena sob as rodas de um carro.
O espetáculo romano continuaria na rua, por enquanto para ela que havia acabado de chegar, o descanso seria seu melhor remédio.
Andreia Cunha
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