AMOR METÁSTASE

Onde o amor impera, não há desejo de poder; 

e onde o poder predomina, há falta de amor. 

Um é a sombra do outro.

Carl Jung

Só há amor quando não existe nenhuma autoridade.

Raul Seixas

O ódio, tal como o amor, alimenta-se com as menores coisas, tudo lhe cai bem. Assim como a pessoa amada 

não pode fazer nenhum mal, a pessoa odiada 

não pode fazer nenhum bem.

Honoré de Balzac

Quem a vê não imagina que possa ter em si outras tantas escondidas em seu interior.

Inúmeras delas se revelam a cada momento, e ele não sabe como lidar com cada uma em suas facetas mais crueis.

O triste é saber que cada qual sempre se revela primeiramente em seu estado mais furioso. De modo que este prefere a mais amena de todas.

Ele poderia desistir e não aceitar o desafio dessa convivência insana, mas o que lhe mantém firme talvez seja o amor...

Espere, caro leitor, falta concluir a frase anterior. O amor por sua capacidade em tentar desvendar o mistério que ali habita como reino intangível ao conhecimento de um homem desbravador, o amor pela vontade que rodeia seu umbigo e lhe chega à garganta respingando o cérebro para ser o primeiro a ter domínio sob essa nova ciência  que ele mesmo vislumbra estar formulando, o amor mascarado tentando iludir-se de que de fato é amor ao próximo que fica resguardado em  espelhos aleatórios, um amor vermelho aguado misturado com diversas intenções...

Há muito do orgulho envolvido nesse sentimento estranho e estarrecedor. Da parte dela, talvez, uma doença, um capricho, uma necessidade em não se mostrar claramente... Não se sabe. Da dele? O que foi dito anteriormente.

Fato é que estão casados há séculos apesar das discórdias de universos distantes e incompatíveis, antes tão próximos e aparentemente interligados.

Outro fato é que segundo estudos primitivos, porém reais do ponto de vista astronômico, houve sim um momento de conjunção desses universos que os fez muito íntimos em determinados momentos.

 Entretanto, o distanciamento ocorrido no depois fez com que ambos guardassem resquícios um do outro. Houve nascimento de um terceiro plano em universo.

Por momentos, isso os uniu mas sempre provisoriamente. Nada seria como no primeiro instante. E aí as máscaras das muitas nela e o desejo de conhece-las da parte dele.

Um colapso que até hoje se mantém numa paz recheada de guerra prestes a explodir. Por vezes, tentam até se entender, mas entre si lutam cada qual com sua arma branca. A resistência  é esta arma. Até que o outro venha a cair morto nos pés do vencedor.

Atualmente, ambos rastejam esperando a derrocada um do outro.  Para ele, será uma vitória mais apatitosa, visto que nela há muitas delas. Ela? Se desdobra em mais a cada investida dele.  

Tudo parece uma dança maldosa e cósmica apesar da beleza do espetáculo no salão e a vontade de fazer novas descobertas científicas.

Um dia esse sistema que se ama se devora por tantas investidas esquisitas.

Andreia Cunha