Enquanto o público ri, os palhaços choram em ato cênico com a intenção de comover a plateia que ainda atenta se dispõe a dar-lhes ouvidos.
Mas o choro não é verdadeiro é apenas uma representação convincente para atrair pessoas a seus favores. As mesmas que pagarão os ingressos para assistirem de camarote ao espetáculo mais fantástico da Terra.
O circo virtualmente desarmado, pois ainda não é o momento de levantá-lo, causa aquela sensação de tristeza em espetáculo-dramalhão.
Mas à medida que as máscaras vão se desfazendo com as lágrimas ficam cada vez mais notórias as imagens dos homens que por detrás ali se escondem. Não há nada de engraçado.
Os artistas deixam de ser astros e se transformam em estrelas cadentes – também decadentes pela falta de tudo o que é essencial – incluindo no pacote valores e morais.
Mesmo assim, o espetáculo deve continuar, pois inúmeros serviçais mestres na montagem de palcos e artistas de toda a espécie de preparatório vão tomando conta do cenário ao fundo que aos poucos vai se transformando no que deve ser (como antes igualmente foi e por muitas vezes ainda será): o circo.
Este mostra seus tentáculos e sua cabeça se ergue como um imenso balão sendo preenchido por ar quente. Os ânimos após a montagem da geringonça esquentarão pra valer. Afinal, tudo precisará tomar seu respectivo lugar antes das apresentações.
Embora todos saibam se tratar de números e peças como num ato de teatro, o show não pode nunca parar. Quem fará as vezes serão os filhos dos filhos dos palhaços que fizeram o primeiro show. A passagem é hereditária e o nome faz toda a diferença. É ele quem garante experiência, poderio e marcas registradas de autonomia e liderança.
Após a derrocada das tintas pintadas nas faces, o público percebe que não há meios de se livrar do espetáculo e em fila vai encarar mais uma fabulosa apresentação. Caso contrário sofrerão as consequencias por suas insubordinações.
E os palhaços se mostram mais felizes do que nunca antes foram.
Andreia Cunha