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domingo, 25 de dezembro de 2011

PAPAI DUFEL




Qualquer semelhança é mera coincidência...

Era idoso e tinha uma imensa fábrica de chocolates... Porém, atualmente, não estava tendo muitos lucros com os mesmos... Outrora, conseguira tudo com a venda dos doces maravilhosos... Bem diferente do que agora vivia... 

Sua aparência era considerada boa para um idoso...Não era excessivamente gordo, mas ostentava uma barriguinha básica e típica para quem de vez em quando recebe bem um chopinho... Cabelos alvos e cheios... Estatura mediana, barba não muito comprida e um bigodinho básico para combinar com seu estilo.

Estava num dilema com a mão de obra que aos poucos ou se aposentava ou abandonava por serviço melhor... Pensava: gente ingrata!... Mas enfim precisava muito mais do que refletir sobre o comportamento humano... 

Precisava de gente... Concluiu que colocaria um cartaz na porta pedindo crianças... Seria mais fácil e as pagaria com mais facilidade: em doces... Teria lucros melhores... E ao falar isso para si mesmo esboçava um risinho maroto de quem descobriu algo fantástico...

Dia seguinte, abre a loja já pregando um cartaz chamativo não menos ilusório para atrair a mão de obra... Hoje em dia, apesar de certa inocência, essa criançada tem opinião própria e nem precisa muito para fazer o que querem e quando bem entendem... Choveram tocos-de-gente loucos para saber como ganhar doces...

Papai Dufel adorou o jeito que encontrou para explorar aquelas mãozinhas de obra baratas... Seria moleza!

Explicou-lhes que seria simples até demais... Era só confeccionar para receber uma cota de doces... Mas para isso tinham que “brincar de fazer chocolates” por no mínimo 10 horas por dia e assim ganhariam uma cota de saquinhos cheios... 

Usou e abusou de sua melhor lábia... A grande maioria aceitou, pois eram crianças pobres que mal conseguiam comida e o que dirá doces... Queriam doces mais do que tudo... Aceitaram para também ajudar suas respectivas famílias, pois não comeriam tantos chocolates assim...
No começo, tudo era uma maravilha, entravam cedo e saiam com uma ínfima cota de doces... 

Às vezes mal dava para eles mesmos... Mas já era alguma coisa...Aos poucos, aquelas mãozinhas inexperientes foram ganhando habilidades e também marcas típicas do trabalho... Calos de mexerem em panelas, em maquinários e etc... Para a maioria, o cansaço era evidente, mas Papai Dufel não queria saber de caso algum. 

Muitos deles tentavam falar sobre negociar uma folga, melhores condições de trabalho ou ainda aumento salarial em cotas de chocolates... Alguns queriam parar com a brincadeira, porém Papai Dufel era raposa velha e os fez assinar contratos e se caso não cumprissem com as clausulas teriam que devolver 70% dos chocolates obtidos ao longo do período...

 Algo impossível para quem mal tinha condições de conseguir uma bala então o que dizer de bombons, trufas ou mesmo barras simples de chocolates?

Era assim que os mantinha na labuta escravizante... Muitos já tinham tentado a fuga, algumas rebeliões... Tudo em vão... Dufel tinha o poder e alguns seguimentos da sociedade o apoiavam por isso... Outros fingiam nem ver para não criarem problemas maiores...

Nessas condições, as crianças nada podiam fazer, seus pais também trabalhavam e de certa forma precisavam daquela cotinha para ter do que se alimentarem... Era assim que tudo permanecia naquela pacífica desigualdade consentida... 

Papai Dufel enriqueceu muito, mas as pobres crianças continuam trabalhando até hoje por lá... Os que cresciam, casavam-se e produziam mais crianças para fazer a máquina girar na confecção dos doces... Por isso, a mão de obra não acabava e Papai Dufel poderia pegar seu trenó puxado por mulas e recrutar mais e mais crianças para a fantasia da magia encantada de sua fábrica de chocolates... 

Andreia Cunha






 


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