Seu corpo correspondia ardendo em fogo juntamente com o som
do tambor enquanto a largas planuras uma imensa cúpula do céu se abria em sua
mente.
Naquele momento, o imenso círculo que o envolvia em forte
vento nas alturas de seu céu interior lhe indicavam que ele todo era apenas uma
semente pronta para o plantio que serviria também de alimento. Seu ser suspenso
no centro desmembrava-se em caule, tronco, folhas, frutos.
Os pêlos que recobriam seu corpo diminuíram sua estrutura
óssea em metamorfose modificava até que expelido pelo vento que o chamou caiu
em novo ambiente. Sua queda apesar de brusca não o machucou, fora aliviado nos
instantes finais.
O tudo era novo e o todo que antes conhecia era
infinitamente complexo a seus olhos ainda perdidos tanto quanto em seu mundo de
origem. Via seres semelhantes a sua figura dançando uma música frenética em
passadas largas sem direção. Locais de intensa altura na qual buracos iluminados abertos permitiam a entrada e a
saída e o sumiço de quem ali passasse.
Em meio à multidão atordoada ninguém o via, estava como um
deles apesar do não pertencimento àquela época. Seu andar ereto o punha em
posição mais confortável para se andar. Mas ainda confuso e profundamente
desconectado ouvia assim o tambor primordial que desencadeou todo esse processo
insano de existência. O ritmo era outro, o medo o acelerara a ponto de estar
prestes a explodir pela total incompreensão do tudo que via.
Adentrou um dos buracos e se assustou com a incrível beleza
do tudo que ali se via. Não sabia nomea-los.
Se abrisse a boca sairiam grunhidos longos e altos porém pasmado se
mantinha calado e num canto invisível a maioria...
Ajoelhou-se num vão e algo lhe soou aos ouvidos que o fez se
voltar para a direção de onde viera o som. Não sabia o que significava: “O
centro está onde também está o seu olhar”. Apenas por instinto se virou para o
som que o despertou ali no encolhido do pó ao chão.
Uma tomada. A ele, três pequenos buracos que não lhe
explicavam em nada o mundo que via sob os olhos vendo cegamente o que não se
podia ainda entender, os ouvidos abertos a sons e surdos pelo absurdo do
complexo incompreensível do nada não saber.
“O centro está onde está também o seu olhar” e seu centro
era um canto enquanto outros e muitos a
seus olhos dançavam a música das esferas. Mal sabia que existiam aquelas
criaturas , pensava antes ser apenas um perdido entre outros esporádicos.
Poderia ser a caça tão temida em seu mundinho original.
Poderia ser a comida ritualística para a renovação das forças daqueles novos
homens que andavam como insetos. Talvez
fossem a s feras dos outros tempos que teria de enfrentar? Não, não pensava com
palavras. Tudo era medo e pulsação como a do tambor que direcionava seu centro
para a tomada de onde parecia vir agora o som.
A tomada o sugou e em velocidade acima da total imaginação
humana foi retornando a origem de seus pesadelos. Em corrente elétrica o mesmo
vento que o transformou em homem moderno a árvore, agora o metamorfoseava em sua imagem
de origem. O círculo, louco, místico e atemporal o trazia para sua rotação
normal.
Não acordou mais o mesmo, era muita verdade para sua imagem primitiva.
A partir daquele dia começou a escrever.
Andreia Cunha
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