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sexta-feira, 7 de setembro de 2012

TOMADA 1







Ele não sabia o que em si acontecia. Tudo a sua volta era um grande mistério e para sua sobrevivência, todos os dias tinha que arranjar instrumentos feitos em pedra para derrubar uma fera, tirar-lhe a vida para consumir suas carnes como se assim estivesse consumindo também seus poderes e forças.

Estranho mesmo era sonhar em suas noites após o cansaço vindo com o cair do sol - sempre em momentos diferentes de tempos em tempos- e entender os motivos do frio e do calor ainda inexplicáveis a sua mente voltada para o matar e o comer.

Se não fosse o caçador seria a caça e isso lhe causava medo extremo embora nem soubesse o que era tal sensação. O ritual diário da vida: o sacrifício, a expiação de seus atos e a renovação de suas forças no ato de consumir o morto para sua vida.

Era entre pesar e desentendimento que procurava entender o mundo  e por isso o representar em sua caverna os animais maiores que no dia seguinte deveriam ser  enfrentados para ainda assim se manter vivo.

Numa dessas noites, após a construção de uma cena religiosa em forma de pintura rupestre, ouviu um tambor persistente pulsar-lhe a mente partindo de seu corpo. Julgou ser de fora e com tocha em mãos saiu pronto para guerrear. Nada. Nada constava.

No entanto, o tambor rufava ritmado e também ritmando suas veias e mente. Nunca sentira isso antes, era algo transcendente e mágico. Desdobrava-se no ser que entre caçador e caça se via prefigurado naquela cena que desenhava fora dela. Se via narrador pronto para contar a quem viesse como amigo o que com o passar  dos dias lhe acontecia como verdade.

A bola de fogo, as feras gritantes, as armas e as estratégias para fazê-las tombar ante sua astúcia. Era um círculo o que envolvia seu desenho na pedra. Um bisão, um homem com pedras polidas e um círculo em volta enquanto seu ser externo todo olho via com outra forma tudo o que acontecia ao som do tambor que lhe estremecia as carnes.

Tomado por vento intenso, ele foi levado às alturas e transportado à loucura do desconhecido no círculo que se desdobrava da imagem na parede. Intensa energia mantinha seu corpo inerte, mas sua mente acesa em fogo visceral. O tambor ardia em brasas e seu corpo correspondia...

Andreia cunha






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